segunda-feira, 17 de junho de 2013

COPA DAS CONFEDERAÇÕES - COM PRIMEIRO TEMPO IMPECÁVEL, ESPANHA VENCE O URUGUAI

Sem fazer muito esforço, a Espanha largou na frente no grupo B da Copa das Confederações ao vencer o Uruguai por 2x1 neste domingo (16), na Arena Pernambuco. Na verdade, os atuais campeões europeus e mundiais fizeram força apenas no primeiro tempo, quando envolveram o adversário com seu já lendário toque de bola e uma marcação forte na saída de bola. A Celeste Olímpica apenas assistiu ao baile e pagou caro por isso.

O jogo da Espanha não é para qualquer um. Para nós, sul-americanos, acostumados a dribles em profusão, chutes de qualquer lugar do campo e que odiamos marcação, chega a ser irritante. Prova disso foram as vaias da torcida pernambucana com míseros cinco minutos de bola rolando.

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Cinco minutos no relógio. Porque o tempo dentro das quatro linhas obedece outro tipo de ordem. O time espanhol toca a bola e toca, toca, toca, toca, toca. E a palavra 'toca' poderia ser repetida por mais 50 linhas e ainda assim não descreveria o futebol dos atuais campeões mundiais.

Não é algo matemático, frio nem calculista. É musical, uma sinfonia que vai de pé em pé até que o adversário, provavelmente paralisado, deixe um espaço, um mínimo que seja.

E o Uruguai foi espectador demais. Talve por admiração, ficou olhando seus oponentes brincando de dois-toques ao invés de tentar tomar a bola. Bem mais que os torcedores que se remexiam nas cadeiras quando Iniesta tentava avançar, mas tocava para trás, já que ainda não havia espaço para finalizar. O primeiro a conseguir foi Fábregas, aos nove minutos. Iniesta fez o corta-luz no passe de Busquets e o camisa 10 acertou a trave direita.

Nos poucos momentos em que a bola esteve em seus pés, os uruguaios sempre tinham a companhia de um enxame de camisas vermelhas dispostas a tudo para recuperar o instrumento de trabalho. O lema é: toque a bola até achar o espaço. Quando perdê-la, faça de tudo para recuperar. Simples, mas que poucos conseguem.

O gol que se anunciava desde o primeiro toque saiu aos 19 e, por ironia do destino, com uma canelada, coisa difícil de se ver no futebol espanhol. Só que a canelada foi uruguaia. Pedro chutou da entrada da área e a bola desviou na perna de Lugano. Muslera só pôde lamentar.

Somente após o gol, a Celeste lembrou-se que estava ali para competir e não admirar a Espanha. Lutou mais pela bola. Aqui e ali conseguiu e, aos 28 Cavani, tocou de leve de cabeça após cobrança de falta. Casillas pegou no meio do gol.

Soldado marcou o segundo gol da Espanha (Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem)

A Espanha respondeu novamente de pé em pé só que desta vez num sentido mais vertical. Do círculo onde os jogaores iniciam o jogo eles iniciaram o ritual até Fábregas encontrar Soldado completamente livre quase na marca do pênalti. Ele chutou sem piedade no canto alto direito de Muslera: 2x0.

A torcida entendeu o jogo. Passou a aplaudir e até ensaiar um olé, aquele mesmo das touradas. O Uruguai ainda ensaiou mais uma reação, chegou até a marcar a saída de bola dos europeus, provavelmente o melhor caminho para vencê-los. Mas não o fez por muito tempo e viu o primeiro tempo terminar mesmo no 2x0.

Começa o segundo tempo e não muda nada. A Espanha, obviamente jamais mexeria no que está dando certo - e já se vão cinco anos de acertos. Chama a atenção o que faz o Uruguai. Ou melhor, não faz.

O time de branco inicia a nova etapa como se não houvesse jogado a primeira. Ou, mais alarmante, como se não encontrasse uma fórmula de fazer diferente. A impressão que se passa é que eles apenas esperam o jogo chegar ao fim sem um estrago maior.

Se o conformismo impressiona de um lado. Também chama a atenção do outro a obediência a um estilo de jogo. Parece que a posse de bola, troca de passes e marcação pressão são conceitos entranhados na cabeça dos espanhóis. Eles simplesmente não conseguem fazer outra coisa.

Para se ter uma ideia, num contra-ataque, Xavi recebeu a bola de costas para a áera. Quando girou, um defensor uruguaio postou-se entre ele e o goleiro.

Sem a menor cerimônia tocou para o lado, isso já dentro da área. Uma heresia para quem quer fazer o gol de qualquer jeito. Pois Arbeloa apareceu e cruzou rasteiro. Soldando entrou de carrinho e por uma fração de segundo não ampliou.

O jogo ficou tão previsível que a torcida achou por bem clamar por ver seus ídolos em campo. E passou a gritar o nome do uruguaio Forlán. Não custava nada e o técnico Óscar Tabárez deve ter pensado o mesmo quando chamou o jogador aos 25 minutos. Foi o mais próximo de um grito de gol que os campeões da América conseguiram.

As torcidas locais também tentaram alguma manifestação. Quando ouviu-se um "Tudo!" respondendo ao "Pelo Sport, nada?" Uma chuva de vaias desabou na arena. No lado esquerdo às cabines de imprensa, outro grupo maior conseguiu, aos trancos e barrancos, fazer com que o grito de guerra leonino fosse ouvido. Aliás, por falar em torcida local, camisas alvirrubras, rubro-negras e tricolores - estas em flagrante menor número - conviviam pacificamente apesar dos apupos.

E daí em diante, a Arena Pernambuco lembrou a Ilha do Retiro, o Arruda e os Aflitos, enquanto o clássico lá embaixo era solenemente ignorado.

(Foto:Clemilson Campos/JC Imagem)

Por falar nele, nesse ínterim de duelo nas arquibancadas, nada aconteceu, a não ser mais substituições no time espanhol. Martínez entrou no lugar de Xavi e Mata substituiu Pedro para decepção dos fãs de Davi Villa. O solicitado Forlán limitou-se a brindar seus seguidores com uma cobrança de falta por cima do gol de Casillas.

Dez minutos antes do apito final muita gente já tomava o caminho de casa, pois nenhum dos dois times demonstrava ambição de fazer mais do que fora executado até o momento. Por isso, perderam o que de melhor aconteceu na etapa. Aos 42, Suárez resolveu não deixar Forlán cobrar a falta. E mandou certeiro no ângulo de Casillas para diminuir o placar. Os sul-americanos ainda tentaram incendiar o jogo nos acréscimos em busca do empate mas a apatia do primeiro tempo cobrou seu preço no fim.

Ficha do jogo:

Espanha: Casillas; Arbeloa, Piqué, Sergio Ramos e Jordi Alba; Busquets, Xavi (Martínez), Iniesta e Fábregas (Cazorla); Pedro (Mata) e Soldado. Técnico: Vicente Del Bosque.

Uruguai: Muslera; Pereira, Lugano, Godín e Cáceres; Pérez (Forlán), Lodeiro (Gargano), Rodríguez e Ramírez (González); Suárez e Cavani. Técnico: Oscar Tabárez.

Local: Arena Pernambuco. Árbitro: Yuchi Nishimura. Assistentes: Toru Bagara e Toshiyuki, todos do Japão. Gols: Pedro, aos 19; Soldado, aos 31 do primeiro. Suárez, aos 42 do segundo. Cartões amarelos: Piqué, Arbeloa, Lugano e Cavani. Público: 41.705.

Wladmir Paulino
Do NE10

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