Durante décadas o orelhão foi a opção mais rápida e barata de se fazer um telefonema. Nem precisa viajar tanto no tempo: no início dos anos 1990 as pessoas ainda faziam fila para usar o aparelho em diversas partes do País. Com a popularização do aparelho celular (que chega a custar R$ 49 nos dias de hoje), operadoras e Governo pensam em um uso diferente para esses telefones coletivos.
É o que tenta fazer a Oi, que já experimenta um telefone público com acesso WiFi em Florianópolis. A capital foi a primeira do País a receber a nova tecnologia e deve instalar 30 desses “orelhões modernos” até o final de 2013. Usuários de qualquer operadora poderão se conectar gratuitamente, desde que estejam num raio de 50 metros de um desses aparelhos. A previsão é que esse modelo chegue a outras cidades ainda este ano. Mais de mil unidades estão previstas para as principais capitais.
A Agência Nacional de Telefomunicações (Anatel) colocou em consulta pública mudanças na evolução na tecnologia fixa. Um dos assuntos é a redistribuição dos orelhões e as novas tecnologias aplicadas a esses aparelhos. Também está em análise o uso de publicidade na parte externa e interna dos telefones públicos, além do método de cobrança, que pode ser cartões de crédito, débito e até mesmo a volta das fichinhas de metal, populares até o fim dos anos 1980. Outros estudos imaginam orelhões com chamadas em vídeo e envio de mensagem de texto.
Hoje para fazer uma ligação paga é preciso comprar um cartão com créditos que custam a partir de R$ 2,51 (20 créditos).
O ocaso dos orelhões
Hoje o Brasil tem 950 mil telefones públicos, sendo 39 mil em Pernambuco. No Recife, são 7.500, mas esse número vem caindo, seguindo um fenômeno nacional. Sem ninguém com interesse em sua utilização, pouco foi investido nesses telefones. Defasados, eles geram pouca renda e são alvos de vandalismo, principalmente aqui no Recife. Em entrevista ao NE10, a Oi afirmou que 78% dos defeitos são decorrentes de depredações.
“Como os orelhões da empresa estão instalados em vias e estabelecimentos públicos, sofrem, diariamente, danos por vandalismo. Em 2013, foram danificados mensalmente por atos de vandalismo, em média, 6 % dos orelhões instalados em Pernambuco . No mesmo período, a companhia realizou a substituição de cerca de 80 campânulas dos orelhões por mês”, afirmou por email.
E os orelhões de hoje vão diminuir ainda mais: dos 950 mil existentes, 538 mil serão desligados pela Anatel. A agência revelou que metade dos orelhões não fazem mais do que duas ligações por dia, ou cerca de 60 por mês. Antes, a média era de 300 ligações/mês.
Ícone brasileiro
Telefones públicos existiam em todo o mundo, incluindo o Brasil, desde meados do século 19. Ficaram populares em cabines, mas em 1972 ganharam a forma que existe até hoje. Quem inventou foi a arquiteta chinesa radicada no Brasil Chu Ming. Ela apresentou o projeto para a Companhia Telefônica Brasileira (CTB), que iniciou a instalação no Rio de Janeiro e São Paulo.
A ideia de Ming era aproveitar melhor o espaço, podendo inclusive ser instalado em postes ou lugares de difícil acesso. Antes, os telefones ficavam dentro de cabines cilíndricas de acrílico e fibras de vidro. Desde então acabou se tornando um ícone do design brasileiro. Chegou a ser exposto na Bienal de Arquitetura em 1973 dado o impacto que teve na paisagem urbana de diversas cidades no Brasil.
Aparelhos foram importantes para as telecomunicações no Brasil. Veja abaixo uma galeria com a evolução dos aparelhos ao longo dos anos.
Primeiro modelo de telefone público, instalado no Rio de Janeiro no final do século 19 (Foto: Museu das Telecomunicações)
Nos anos 1970, os orelhões tinha estrutura externa de acrílico. Depois foi substituído para fibra de vidro (Foto: Museu das Telecomunicações/OiFuturo)
Era comum muitas comunidades fazerem solenidades de inauguração dos orelhões. Aqui, um novo é instalado em Ramos, no Rio de Janeiro (Foto: Museu das Telecomunicações)
Pessoas na fila para usar orelhões na orla do Rio de Janeiro (Foto: Museu das Telecomunicações)
Cartões com créditos foram introduzidos em 1992. Aqui, orelhão segue “inivísivel” em rua do Recife (Foto: JC Imagem/Arquivo)
Vandalismo é problema frequente, segundo a Oi. No Recife são 7.500 orelhões (Foto: NE10/Arquivo)
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