quinta-feira, 9 de junho de 2011

ORGANIZAÇÃO - O MÉRITO DO VASCO CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL


Tanto na disputa estudada e pragmática vencida por 1 a 0 em São Januário quanto nos eletrizantes 3 a 2 para o Coritiba no Couto Pereira, o Vasco acertou ao nunca abrir mão da estrutura tática e do plano de jogo do técnico Ricardo Gomes.

Se em casa, com os desfalques dos rápidos Éder Luis e Ramon, o time foi cauteloso, preocupado em não sofrer o gol “qualificado” e trabalhou a bola até a jogada certa encontrar a cabeça de Alecsandro, fora de seus domínios a proposta foi igualmente simples e prática: conter nos primeiros minutos o ímpeto dos donos da casa, empolgados pelos 5 a 1 do confronto entre reservas pelo campeonato brasileiro, e contra-atacar com Éder Luís pela direita.

O ensaio do primeiro gol veio no domínio perfeito, a arrancada entre Emerson e Lucas Mendes e o chute na rede pelo lado de fora. A estratégia do Coxa de marcar mais à frente era acertada, mas o buraco pela esquerda da defesa foi fatal: passe de Diego Souza para o camisa sete, que chegou ao fundo em alta velocidade e apenas rolou para Alecsandro. Quatro defensores deixaram o artilheiro livre ao marcar a bola, que foi parar nas redes aos 11 minutos.

Marcelo Oliveira esperou mais 15 para tirar Marcos Paulo, o volante-meia pela direita do 4-3-1-2 dos donos da casa. Se a intenção da mudança tática inicial era atacar roubando bolas no campo do oponente com a marcação avançada e encaixada pelo “espelho” dos esquemas, faltou mais presença ofensiva a Davi, Rafinha e Bill.

A entrada de Leonardo, com o time voltando ao habitual 4-2-2-2/4-2-3-1, deixou a equipe mais confortável e o gol de Bill dois minutos depois da substituição trouxe os paranaenses de volta à final.

Porque o Vasco tinha ordem, mas não contava com a segurança defensiva de outros jogos fora de casa. Dedé errava mais que o habitual e Romulo, quase um terceiro zagueiro para bloquear o jogo aéreo, sofria com o volume de jogo do adversário. O oportunismo de Davi aproveitando rebote de Prass nos acréscimos da segunda etapa incendiou time e torcida. Foi o momento em que a virada no confronto pareceu mais possível.

A euforia alviverde se transformou em afobação após o intervalo e o Vasco, mesmo penando com Rafinha para cima de Ramon e sem contar com o passe certo de Felipe na saída para o ataque, continuava tentando manter a bola na frente e procurando Éder Luís. Mais uma vez com liberdade pela direita, o atacante contou com a falha do goleiro Edson Bastos para igualar o placar e silenciar o estádio.

Mas se impor diante do Coritiba no Alto da Glória em 2011 não é tarefa das mais simples. Mesmo transbordando tensão, o time achou o gol no chutaço de Willian no ângulo de Prass. Com Eltinho e Marcos Aurélio nas vagas de Lucas Mendes e Léo Gago, o Coxa atacou num 4-2-3-1 bem definido que tinha Davi articulando mais atrás e intensa movimentação do trio de meias atrás de Bill. O erro foi gradativamente abandonar as jogadas trabalhadas e insistir com os balões para a área adversária.

Ricardo Gomes mexeu certo. Tirou os cansados Felipe e Diego Souza, que não conseguiam mais cadenciar o jogo nem encaixar passes para os atacantes, e renovou a marcação com Jumar, que foi combater à direita invertendo com Eduardo Costa, e tentou acelerar o contragolpe com Bernardo. Taticamente, o mesmo 4-3-1-2 da maior parte da campanha no torneio.

O Coritiba tentou se impor na base da fibra, do coração. Mas criou pouco, também porque cansou. Chance cristalina tiveram os cruzmaltinos, mas Bernardo desperdiçou. A comoção dos minutos finais foi mais pela total indefinição e a disputa aguerrida em campo. No apito final, o prêmio ao time mais racional e coordenado nos 180 minutos.

O Coritiba pagou pela força ofensiva insuficiente para marcar fora de casa e pelos 26 minutos iniciais praticamente jogados no lixo pela escolha infeliz do bom treinador Marcelo Oliveira. Mas a trajetória no primeiro semestre deixa saldo positivo, especialmente o recorde no Brasil de 24 vitórias seguidas.

O Vasco, novamente campeão após oito anos, deve celebrar o primeiro título com o ídolo eterno Roberto Dinamite na presidência, a redenção após o inferno da Série B, o retorno de Juninho Pernambucano e a volta à Libertadores. Vibrar com Fernando Prass, Dedé, Felipe, Diego Souza, Éder Luís, Alecsandro e valorizar o elenco mais forte e equilibrado dos últimos anos.

Mas não pode esquecer de reverenciar Ricardo Gomes, o técnico sereno e boa gente que acertou e guiou um time organizado e consciente a uma conquista histórica.

Fonte - globoesporte.com

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