segunda-feira, 14 de março de 2011

TRAGÉDIA NO JAPÃO - PAVOR DE UM DESASTRE NUCLEAR


TÓQUIO – Quando o pior parecia já ter passado – depois do devastador terremoto de 8,9 graus e de uma tsunami que arrasaram o nordeste do país –, os japoneses enfrentaram ontem um novo horror: a ameaça de um desastre nuclear. Enquanto o Japão ainda contava seus mortos, uma crise estourava na usina nuclear de Fukushima Daiichi, operada pela Tokyo Electric Power Co. (Tepco) em Okumamachi, a 270 quilômetros da capital. O governo confirmou a ocorrência de uma explosão na estrutura de concreto em torno de um dos reatores, que deixou quatro feridos e chegou a provocar vazamento radioativo. Já na manhã de hoje, no horário local, os sistemas de resfriamento falharam em outro reator nuclear da usina.

Segundo o porta-voz do governo, Yukio Edano, a radiação provocada pela explosão foi pequena e não havia risco de contaminação, mas as imagens de uma nuvem de fumaça branca cobrindo a usina varreram a sensação de segurança do país, considerado o mais preparado do mundo para terremotos. De acordo com a rede de TV pública NHK, porém, ao menos três moradores da cidade de Futabamachi apresentaram exposição à radiação. Eles foram escolhidos aleatoriamente entre outros 90 resgatados no momento do incidente. Todos foram levados para um hospital da região. A TV local também mostrou muros derrubados no edifício que abriga o reator número 1. Estado de emergência foi decretado em cinco reatores do complexo de Fukushima.

A possibilidade de derretimento do reator 1 fez os japoneses se verem diante da sombra de dois grandes desastres nucleares: Three Mile Island, em 1979, nos EUA, e Chernobyl, em 1986, na Ucrânia. Fukushima foi catalogado pelas autoridades como de categoria 4 na Escala Internacional de Eventos Nucleares (Ines, na sigla em inglês), cujo nível máximo é 7. Ou seja, foi considerado um “acidente com consequências de alcance local”. É, portanto, o maior acidente nuclear da história desde Chernobyl, catalogado na categoria 7 (“grave”). Three Mile recebeu nível 5 (“acidente com consequências de maior alcance”).

Apesar de o governo japonês ter minimizado os riscos de uma catástrofe nuclear – expressão que tem um peso ainda maior para os japoneses, o único povo do planeta a ter enfrentado os efeitos de uma bomba atômica –, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da Organização das Nações Unidas (ONU), exigiu com urgência informações sobre a dimensão do acidente. Inicialmente, autoridades e executivos da Tepco garantiram que a explosão não ocorrera no interior do reator número um e nem afetara o contêiner de aço em que fica abrigado. Depois, a AIEA foi avisada que os níveis de radiação estavam diminuindo.

A imprensa japonesa informou que, ao longo do sábado, o nível de radiação chegara a ficar mil vezes acima do padrão normal dentro da sala de controle do reator número 1. Edano, no entanto, garantiu que não houve alteração nos índices de radiação e pediu calma.

Ao mesmo tempo, o governo confirmou estar se preparando para distribuir iodo – usado para proteger o corpo de exposição radioativa – aos moradores da região afetada. Inicialmente delimitada a um raio de dez quilômetros, a área de retirada dos vizinhos de Fukushima foi ampliada para 20 quilômetros. Cerca de 45 mil pessoas foram evacuadas. Os problemas na unidade 1 começaram logo após o terremoto de sexta-feira. A usina foi desligada, mas o sistema de resfriamento do reator falhou, provocando um acúmulo de pressão e a consequente explosão.

Ontem à noite, no horário de Brasília, o operador da usina Fukushima anunciou que o sistema de resfriamento de outro reator não estava funcionando e corria risco de explosão. “Todas as funções de manutenção dos níveis de refrigeração do reator de número 3 falharam na usina de Fukushima”, afirmou um porta-voz da empresa operadora.

Fonte - JC

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