segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
RIO - RECONSTRUÇÃO CUSTARÁ R$ 2 BILHÕES
A reconstrução das três cidades da Região Serrana do Rio mais atingidas pelas chuvas da semana passada custará cerca de R$ 2 bilhões. Os recursos serão usados na recuperação de estradas, pontes, rios, contenção de encostas e construção de cinco mil unidades habitacionais para as famílias que perderam suas casas ou que precisam sair das áreas de risco em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.
Hoje, os prefeitos dessas cidades formalizam a criação de um consórcio para atuar em conjunto na confecção de projetos, captação de recursos e realização das obras. Às 23h30 de ontem (horário do Recife), já chegava a 630 o número de mortos na tragédia no Estado, segundo a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil.
Ontem, o governador Sérgio Cabral decretou estado de calamidade pública nesses três municípios e em outros quatro, também atingidos pelas chuvas: Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Areal. Com o decreto, prefeituras, Estado e governo federal agilizam a liberação de recursos e o início dos trabalhos com a dispensa de licitação para a compra de material ou contratação de serviços. O ato permite ainda que moradores de áreas destruídas possam sacar até R$ 4.650 do FGTS.
Em Friburgo, a prefeitura ainda calcula o prejuízo, mas já se sabe que será superior a R$ 1 bilhão. O secretário municipal de Comunicação, David Massena, explicou que será necessário construir três mil unidades habitacionais para os desabrigados. Para isso, a prefeitura desapropriou a Fazenda Laje, no caminho para Conselheiro Paulino. Massena acrescentou que o valor total da reconstrução levará em conta obras em imóveis do patrimônio cultural da cidade.
“Tivemos perdas importantes, como a Capela de Santo Antônio, construída nos século 19. O imóvel era tombado e foi totalmente destruído. Era um símbolo da cidade por sua importância histórica.”
O secretário de Planejamento e Projetos Especiais de Teresópolis, José Alexandre Almeida, afirmou que o município já tinha apresentado projetos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 para a construção de 460 unidades habitacionais, para abrigar famílias que moram em áreas com altíssimo risco de acidentes. Ele diz que agora serão necessárias mais 500 unidades para atender os moradores que viviam em áreas sem risco, mas que tiveram as residências destruídas pela enxurrada.
O problema é que a cidade tem apenas cerca de 10% de área plana. No fim de semana, técnicos da prefeitura se reuniram para identificar terrenos que podem ser desapropriados: “Para erguer essas 500 casas, precisamos de uma área de 300 mil metros quadrados. Como temos um terreno próximo com essa magnitude, estamos fracionando o número de casas por área. Já identificamos algumas onde conseguiremos construir 150 casas, em outro mais 40”. Além dos projetos de habitação popular, a prefeitura estima um gasto de R$ 590 milhões para recuperar toda a cidade.
Segundo o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, que tem sobrevoado a região diariamente, só para recuperar os principais rios da região, que precisarão ser dragados e ganhar novas pontes, a estimava inicial é de um gasto de R$ 190 milhões.
A prefeitura de Petrópolis também contabiliza as perdas. Segundo o município, serão necessárias 1.500 casas para os desabrigados, e ainda não há um cálculo estimado do valor total para reconstruir as áreas atingidas.
PETRÓPOLIS - NOVO DESLIZAMENTO MATA 3 PESSOAS
Um novo deslizamento em Petrópolis provocou a morte de três pessoas na madrugada de ontem. Elas ficaram soterradas na localidade do Brejal, área rural que está ilhada desde quarta-feira, quando temporais devastaram a Região Serrana do Rio. Segundo a Prefeitura de Petrópolis, cerca de 70 pessoas permanecem isoladas na cidade. Na tarde de ontem, bombeiros em helicópteros tentaram resgatá-las, mas não conseguiram pousar na área, por causa do risco de deslizamentos. A prefeitura afirmou que a área é de mata atlântica virgem e que não há ocupação irregular nas encostas. Brejal é uma área rural que fica às margens da rodovia RJ-134.
Em Nova Friburgo, a Polícia Militar montou uma base estratégica no Ceasa do bairro Conquista, que faz divisa com Sumidouro, para facilitar o acesso a pontos da Região Serrana que continuam isolados pelo desabamento de barreiras. Segundo informações do coronel James Barros, comandante do 11º BPM (Nova Friburgo), existem pelo menos 20 bairros da região completamente isolados, onde os moradores ainda aguardam por resgate.
“A situação está muito crítica. É impossível saber a extensão da catástrofe. Ainda existem muitos locais isolados. Há pontos em que avalanches levaram famílias inteiras e não tem quem reclame os corpos”, relatou o comandante. Cerca de 700 agentes da PM foram destacados para a Serra para ajudar nas buscas.
Apesar dos esforços de concessionárias para restaurar a distribuição de energia em toda a Região Serrana, as dificuldades impostas pelas chuvas dificulta os trabalhos. Em Nova Friburgo, cerca 30% dos moradores continuavam às escuras até ontem. A Energisa informou que não tem previsão de quando conseguirá normalizar o fornecimento de luz em áreas rurais.
Por sua vez, a Ampla informou que regularizou a distribuição de energia para 93% de seus clientes na Região Serrana. Em São José do Vale do Rio Preto, 2.440 famílias voltaram a ter luz no sábado. O município ficou isolado por dois dias. Em Teresópolis, o serviço está 96% restaurado. Na região de Petrópolis e Areal, 91,5% dos moradores voltaram a contar com eletricidade.
TERESÓPOLIS - I - ÓRFÃOS RECEBEM APOIO PSICOLÓGICO
Médicos e psicólogos de Teresópolis tentam ajudar crianças que perderam os pais no temporal que atingiu a Região Serrana do Rio. As enxurradas e deslizamentos de terra mataram pelo menos um dos pais de 18 dos 20 menores de idade que estão internados no Hospital das Clínicas do município. Alguns deles têm ferimentos graves e a maioria não sabe que perdeu parte de suas famílias no maior desastre natural do País. Ao lado de outros parentes, como tios e avós, uma equipe de psicólogos trabalha para reconfortar as crianças e adolescentes.
A Justiça já começou a fazer um levantamento de menores que perderam os pais, com o objetivo de repassar sua guarda a parentes próximos que sobreviveram. “É uma situação terrível, pois muitas crianças e adolescentes estão com traumas, fraturas e escoriações, mas sobreviveram, enquanto seus pais não tiveram a mesma sorte”, explicou Rosane Rodrigues Costa, diretora do Hospital das Clínicas.
Ainda não há casos registrados em Teresópolis de crianças e adolescentes que perderam toda a família, ficando sem parentes próximos. Segundo o juiz da 2ª Vara de Família, José Ricardo Ferreira de Aguiar, os menores de idade cujos pais morreram na tragédia poderão ficar temporariamente com tios ou avós.
“A situação será regularizada aos poucos. Se nenhum parente se dispuser a ficar com elas, essas crianças serão remanejadas de acordo com o cadastro nacional de adoção”, afirmou o magistrado.
Em estado grave, um menino de 11 anos foi levado na quarta-feira à sala de emergência do hospital após ser arrastado por quatro quilômetros pela enxurrada. Sua mãe morreu quando a casa em que a família morava foi destruída por um deslizamento de terra no bairro da Posse. O pai sobreviveu.
“Temos que fazer um trabalho com os parentes para saber como lidar com essa informação. A primeira orientação é não mentir, caso a criança pergunte pelos pais. Caso decidam dar a notícia ao menor, é importante saber como a família lidava com o assunto ‘morte’ antes da tragédia”, explicou a psicóloga Katia Dumard.
TERESÓPOLIS - II - 133 PESSOAS DESAPARECIDAS
Pelo menos 133 pessoas continuam desaparecidas só em Teresópolis. Em apenas dois dias, o Ministério Público (MP) estadual recebeu 139 solicitações de buscas de moradores que ainda não foram localizados. Desde então, seis pessoas foram encontradas – duas estavam mortas e quatro, em casas de parentes. O MP instalou dois núcleos na cidade para atender parentes de desaparecidos.
Voluntários com curso superior e profissionais do Programa de Identificação de Vítimas (PIV) – ligado ao MP e responsável pela localização de cidadãos no Estado – trabalham nos dois postos instalados em Teresópolis, um na 110ª DP e outro na sede da ouvidoria municipal, na Praça Olímpica. O objetivo é elaborar uma lista unificada de desabrigados, internados, desaparecidos e mortos já identificados.
Com informações passadas pelos familiares, o grupo cruzará os dados com cadastros do IBGE, do programa Bolsa Família e da concessionária de energia elétrica Ampla. Responsável pela iniciativa, a titular da 1ª Promotoria de Tutela Coletiva de Teresópolis, a promotora Anaiza Malhardes Miranda, alerta, porém, que nem todos os desaparecidos estão mortos ou feridos: “Muita gente não encontra os parentes por dificuldade de comunicação. Mais para frente, quando os acessos estiverem desobstruídos, faremos postos itinerantes para atender os moradores da área rural, que não conseguem chegar ao Centro”.
Em Nova Friburgo, a maior parte das pessoas que tiveram parentes soterrados não tem mais esperanças de encontrá-los vivos. Muitos enfrentam o drama de buscar informações de parentes que sobreviveram, mas foram transferidos para hospitais do Rio. Hoje, as equipes de salvamento de Friburgo vão montar, com a Cruz Vermelha, um centro para cadastrar desaparecidos, mas o grande problema, segundo autoridades, é confrontar as informações.
O coordenador da Defesa Civil de Nova Friburgo, tenente-coronel Robaldinei, responsável por coordenar o resgate das vítimas, está entre as pessoas com parentes soterrados. Ele perdeu quatro pessoas da família, que eram primos de segundo grau. O tenente-coronel evita o assunto e, segundo amigos, tem se concentrado no trabalho para não pensar no drama pessoal.
Num posto montado para reconhecimento de cadáveres, no Centro, o pedreiro José Carlos Soares esperava para tentar reconhecer os corpos da mãe, de 72 anos, e do irmão de 45: “A maior tristeza é esperar. Se a gente enterra, acaba logo essa angústia de todo momento ter que ir ao cemitério”, disse o pedreiro, que já reconheceu e compareceu aos enterros de dois sobrinhos e da tia.
Fonte - JC OnLine
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