sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ATAQUES - ONDA DE VIOLÊNCIA E PÂNICO NO RIO


RIO – No quarto e mais violento dia da onda de ataques criminosos no Estado do Rio, iniciada no último domingo, 26 veículos foram incendiados entre a madrugada e a noite de ontem. Além disso, duas cabines da Polícia Militar (PM) foram metralhadas e pelo menos 19 pessoas morreram em confrontos entre traficantes e policiais, que realizaram operações simultâneas em 29 favelas na capital e na região metropolitana. Dois policiais ficaram feridos em confrontos com bandidos. Quarenta e sete escolas e dez creches, que atendem 17.772 alunos, não funcionaram.

Entre os mortos está Rosângela Barbosa Alves, 14 anos, atingida por um tiro nas costas durante uma incursão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na Vila Cruzeiro, Zona Norte, considerada o principal reduto de traficantes do Comando Vermelho (CV) no Rio atualmente. Das 18 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) já implantadas pelo governo, 17 estão em redutos do CV. Rosângela estava em casa quando levou o tiro. “É essa a polícia que vocês querem? Só sobe ao morro para matar inocente pobre. Parabéns”, gritava, em tom de ironia, o pai da jovem ao saber da morte da filha, no Hospital Getúlio Vargas, na Penha.


O tiroteio entre traficantes e o Bope na Vila Cruzeiro deixou ainda mais três mortos e outras 14 pessoas feridas, inclusive um PM, e um caveirão (carro blindado da polícia) foi atingido e inutilizado por coquetéis-molotov atirados pelos traficantes. O blindado teve também três de seus seis pneus furados. Agarrado aos pneus, estava um obstáculo conhecido como jacaré – estrutura de ferro com partes pontiagudas.

Mas a polícia também obteve êxitos. Só ontem, foram detidos 153 suspeitos de participação nos ataques a veículos – 21 ficaram presos após serem ouvidos. Foram apreendidas 14 pistolas e revólveres, dois fuzis, uma espingarda calibre 12, uma submetralhadora, uma granada e duas bombas artesanais, mais de uma tonelada de drogas e material inflamável.


Pela primeira vez desde o início dos ataques, a ação dos bandidos fez vítimas. Pela manhã, quatro passageiros de uma van se queimaram, em Santa Cruz, quando dois homens armados incendiaram o veículo e impediram que eles saíssem. À noite, um homem ficou ferido após bandidos atearem fogo num ônibus na Via Light, em Anchieta. A maioria dos ataques a veículos ontem se concentrou na Baixada Fluminense (5), região de Niterói e São Gonçalo (6), e Zona Norte da capital (8).

Em Santa Cruz, a trocadora da van incendiada, que pediu para ser identificada como Eliane, contou que os bandidos teriam impedido que ela saísse do veículo. Além dela, o motorista e dois passageiros sofreram queimaduras nos pés. Eles foram socorridos no Hospital Rocha Faria e liberados à tarde. “Eles queriam matar todos, tanto que, depois que colocaram fogo, gritaram para ninguém sair da van.


Fui salva pelo motorista, que me arrastou para fora depois que eles fugiram”, contou a trocadora. Em seguida, também em Santa Cruz, um ônibus foi incendiado na Avenida Felipe Cardoso. Duas horas antes, outro coletivo foi queimado em Vicente de Carvalho, na Zona Norte. As chamas consumiram todo o veículo. No ataque de Anchieta, bandidos atearam fogo no ônibus na Via Light. Até o fim da noite, não havia informações sobre a identificação e o estado do passageiro ferido.

No ônibus incendiado em Vicente de Carvalho, a polícia encontrou um bilhete com o seguinte recado: “Com UPP não há olimpíadas”, numa referência aos Jogos Olímpicos de 2016, que serão na capital fluminense. A polícia prendeu Magno Tavares dos Santos, 24, que confirmou ter recebido R$ 200 de traficantes da Vila Cruzeiro para ajudar a tocar fogo no ônibus.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou em entrevista à rádio CBN que os ataques aos veículos no Estado são desespero de marginais. Ele disse que a pacificação das favelas no Rio vai continuar. O governo atribui a onda de ataques a uma reação de facções criminosas à implantação das UPPs nas favelas do Rio. “Não vão nos inibir. Semana que vem vamos dar posse à UPP do Morro dos Macacos (Zona Norte). Vamos seguir com o trabalho de pacificação de diversas comunidades”, disse o governador. Segundo ele, até 2014, ano da Copa do Mundo, cuja final também será no Rio, todas as favelas estarão pacificadas.


Cabral pediu ainda que o carioca mantenha a sua rotina. “Com inteligência, trabalho firme, coragem e serenidade, vamos superar este momento que o Rio enfrenta. São manifestações desesperadas de tentativa de enfraquecimento da nossa política de segurança.”

O mandatário pediu apoio à Marinha do Brasil, que garantiu suporte logístico, como veículos blindados, armas, munição e óculos de visão noturna. Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o governador afirmou que recebeu um fax do ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantindo total apoio.

O secretário de Segurança Pública José Marino Beltrame também foi enfático: não haverá qualquer mudança no plano estratégico da segurança. Para ele, o bilhete dos traficantes com referência às UPPs e aos Jogos Olímpicos mostra o desespero dos bandidos. “Estamos no caminho certo. Vamos continuar a reprimir, mas é importante pensarmos na frente. Se não fizermos isso, o Rio perde uma oportunidade de ter uma resposta concreta a médio e longo prazo para resolver o problema da segurança.” As operações da polícia continuam hoje. O comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, cassou as folgas dos PMs durante a crise. Ao todo, 17.500 homens estão de prontidão. A principal recomendação do Comando da Polícia Militar à população é que as pessoas evitem sair à noite.

Fonte - JC OnLine

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