quarta-feira, 5 de maio de 2010

BRASIL - MOBILIDADE É O MAIOR PROBLEMA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


Às 7h30, em Curitiba, muita gente está a caminho do trabalho. No meio delas, no ônibus, o analista de sistemas Claudinei de Oliveira – casado, pai de uma filha, cadeirante. Como ele, há 28 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, segundo estimativa do IBGE. Outro cálculo, o das Nações Unidas, fala em 19 milhões.

Gente como o técnico de informática João Carlos Rocha, no Rio de Janeiro. Quanto ele tenta pegar um ônibus, um não é adaptado, outro para longe do ponto. Há os que nem param. Em outro o elevador não funciona. Ele leva quase uma hora para conseguir embarcar.

A administradora de empresas Ana Claudia Monteiro vai ao trabalho de metrô: “A estação onde eu moro, a Siqueira Campos, em Copacabana, é totalmente acessível. Lá eu não preciso de ajuda. Mas no Catete, que é a estação onde eu desço, não tem elevador. Só escada rolante. Eu preciso de um auxiliar que me ajude na escada rolante até o nível intermediário e depois até a rua e quando você sai da escada rolante, ainda tem dois degraus”.

A maior parte das estações do metrô do Rio de Janeiro não tem elevador. Em São Paulo, pelas ruas, Regina passa dificuldades. Os sinais de trânsito não têm aviso sonoro para alertar o cego se abriu ou fechou. No Rio de Janeiro existe apenas um, em frente ao instituto dedicado à integração do cego ao mundo comum.

Nos bairros da capital paulista, não são apenas buracos e faltas de rampas que incomodam quem usa cadeira de rodas. O maior problema da pessoa com deficiência no Brasil é a mobilidade.

“Às vezes,em lugares que eu não conheço, que não tem muita gente, e como nós somos a minoria, não tem aquela adaptação da cidade para deficientes visuais, tipo sinal sonoro, orelhão que não tem proteção, que bate com a cabeça, especialmente eu que sou um pouquinho alto”, descreve o atleta para-olímpico Luis Pereira Da Silva Filho.

“Eu todo dia ando no centro da cidade. É uma loucura, é muita gente, as pessoas não notam, só notam quando a minha bengala, que é o instrumento que a gente usa pra andar na rua, que quando toca em alguém, que aí vê que é um deficiente visual que está passando e aí fala: cuidado, cuidado”, diz a atleta Ana Carolina.

Na capital do Paraná existem calçadas com trilhas para cegos, rampas, paradas altas, que permitem entrar direto (com a cadeira) no interior dos ônibus. A reforma do sistema de transportes de Curitiba teve orientação da superintendente do IBDD Tereza Costa D’Amaral, que também ajudou a elaborar a Lei do Deficiente em 1998: “Curitiba fez a reforma do transporte coletivo pensando na acessibilidade para o deficiente, então foi uma transformação completa, não se fez uma exceção”.

Mesmo na cidade considerada a mais bem adaptada às necessidades de portadores de deficiências, quem está numa cadeira de rodas, ou tem algum tipo de deficiência, enfrenta problemas diariamente. Nas paradas, escadas.

“Seria necessário fazer uma rampa que você criaria uma certa independência para subir e descer sem depender de outras pessoas e também ajudaria outras pessoas, como idosos, gestantes, para poder utilizar a rampa”, sugere Claudinei de Oliveira.

A Lei do Deficiente exige: rampas, acesso, locais próprios em cinemas e teatros, banheiros, vagas em estacionamentos…

“De que adianta oferecer emprego para uma pessoa com deficiência, se não existe um meio acessível para ele chegar a esse emprego? De que adianta oferecer escola se ele não consegue chegar à sala de aula porque na escola só tem escada? De que adianta oferecer cultura, lazer, se todos esses locais, esses instrumentos não são acessíveis?”, questiona o analista de sistemas Sandro Soares.

Por que a lei não funciona?

“Eu acho que é preciso fiscalização, vontade. Por que não adianta você ter uma determinação que obriga os ônibus a ter acessibilidade e ninguém fiscalizar se ela funciona”, aponta a administradora de empresas Ana Claudia Monteiro.

André Melo de Souza quer mais do que surfar: “Uma cidade toda acessível para que as pessoas possam vir à praia, ir ao teatro, ir à escola, poder chegar ao hospital porque não adianta ter a saúde se não tem como chegar lá, não adianta ter a escola se o aluno não tem como chegar lá e isso envolve toda a questão da acessibilidade na cidade toda. Não é só o transporte, mas as vias e tudo. O que eu espero é uma cidade para todos”.

E um país que permita a meninos como o estudante Vinicius Rangel Valentin, de 10 anos, sonhar alto: “Eu quero chegar em 1016 e ser campeão”.

FONTE: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/

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