segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ESQUADRÃO ANTIBOMBA - A SWAT DE PERNAMBUCO


Após 13 anos, Pernambuco voltou a capacitar seus policiais para enfrentar atos terroristas. No fim de outubro, formaram-se os primeiros 22 alunos do curso Ações Antibomba, coordenado pela Companhia Independente de Operações Especiais (Cioe). Eles foram submetidos a 21 dias de aulas, que seguiram padrões internacionais. Esse foi o primeiro passo dado pelo Estado para especializar profissionais em ocorrências com explosivos, visando o aperfeiçoamento do sistema de segurança pernambucano para a disputa da Copa do Mundo de 2014.

Em Pernambuco, o último treinamento semelhante a este havia acontecido em 1996. E dos policiais capacitados naquela ocasião, a maioria se aposentou e não integra mais os quadros da segurança pública estadual. Por isso, fazia-se urgente a formação de novos especialistas na área, apesar do Estado não ter um longo histórico de ocorrências relacionadas a ações com explosivos. “Esta era uma carência do nosso sistema de segurança, que começamos a suprir com o curso”, comentou o capitão Flávio Bantim, do Cioe, que coordenou as aulas da “Swat” pernambucana – uma referência a polícia especializada americana, que ganhou destaque no Brasil através dos seriados de TV a partir da década de 80.

Desde a formatura, há pouco mais de um mês, os alunos já entraram em ação duas vezes. Na primeira, no dia 9 de novembro, foram chamados para desarmar um suposto artefato explosivo na Avenida Conde da Boa Vista, no Centro. Mas, no local, descobriram que se tratava de alarme falso. No dia 20, a missão deles foi detonar a granada deixada na carroceria do caminhão utilizado no assalto a um carro forte na BR-101, em Tejipió.


Outras duas edições do curso devem ser realizadas até julho de 2010. A expectativa é que até lá mais 60 policiais sejam capacitados. Somados aos formandos da primeira turma, Pernambuco passaria a ter um número de efetivo considerado ideal para os padrões internacionais. “Queremos que Pernambuco se transforme em referência nacional no assunto”, afirmou Bantim.


Paralelo à capacitação, o Cioe encaminhou pedidos à Secretaria de Defesa Social do Estado e à Secretaria Nacional de Segurança para a compra de equipamentos. O investimento necessário é de cerca de R$ 5 milhões e inclui a aquisição do que há de mais moderno no mundo em tecnologia antibomba: roupas de proteção, braços mecânicos e robôs para manusear os artefatos explosivos à distância, através de controle remoto. A previsão é que os aparelhos cheguem a Pernambuco até dezembro de 2010.

Entre os formandos da primeira turma, estão dois policiais civis e 20 policiais militares. O curso começou com as aulas teóricas em sala. A parte prática se deu nas dependências da empresa Elephant Indústria Química, em Barreiros, a 91 quilômetros do Recife. Lá, puderam conhecer os mais variados tipos de pólvora e de bananas de dinamite, assim como suas reações. “Mostramos como devem proceder diante dos explosivos para evitar acidentes”, disse o empresário Carlos Avellar Júnior.


Com aproximadamente 90 policiais capacitados para enfrentar atos terroristas com bombas até julho de 2010, o Cioe espera passar com louvor pelas vistorias que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) fará em Pernambuco nos próximos anos, como parte da escolha do Estado como uma das sedes do Mundial de 2014.

SEM REGISTRO DE ACIDENTE HÁ 13 ANOS

Os padrões de segurança na fabricação de explosivos em Pernambuco também viraram referência na América do Sul. Foram os altos investimentos em tecnologia que tornaram o processo de baixo risco à vida dos funcionários. Tanto, que nos últimos 13 anos, quando a Elephant Indústria Química foi instalada em uma área de 40 hectares do Engenho Herval, na Zona Rural de Barreiros, a 91 quilômetros do Recife, não houve registro de um acidente sequer.

Atualmente, não há funcionários na linha de frente da produção de explosivos, o que diminui os riscos. Com máquinas modernas à disposição, a fabricação de pólvora e dinamite é controlada à distância, através de uma central de comando, localizada a cerca de 300 metros de onde todo o processo ocorre. “Assim, as chances de haver uma tragédia diminuem demais. O máximo que pode nos acontecer aqui são danos materiais”, garantiu o empresário Carlos Avellar Júnior.

O mais recente investimento da Elephant na área foi feito no mês passado. A Explus trouxe a Barreiros a mais moderna tecnologia mundial na fabricação de bananas de dinamite e tirou completamente os funcionários da linha de produção. Com a nova máquina, a fabricação aumentou de dez para 30 toneladas diárias. O produto é totalmente direcionado para o mercado interno, principalmente às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Enquanto o destino da pólvora é exclusivamente o exterior.

“O importante é que as novas tecnologias trouxeram segurança a todos dentro da empresa e não causaram desemprego. Nós alocamos os funcionários em outros setores da fábrica que estão em expansão”, explicou Carlos Avellar.

TRAGÉDIA

Em 1994, a Elephant Química Indústria protagonizou o maior acidente de uma fábrica de explosivos em Pernambuco. A empresa estava localizada no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, tinha outros donos na época e máquinas arcaicas. Na ocasião, quatro funcionários da empresa morreram com a explosão.

PÓLVORA SAI DE BARREIROS DIRETO PARA A NASA

Pernambuco virou referência mundial na fabricação de explosivos. Tanto que da Zona Rural de Barreiros, a 91 quilômetros do Recife, sai toda a pólvora consumida pela Agência Espacial Americana (Nasa), e boa parte da que é utilizada pelos exércitos dos Estados Unidos e do Canadá. Outro importante destino do produto são os parques de diversão da Disney, em Orlando, nos EUA.

Por ano, a Elephant Indústria Química envia cerca de 81 toneladas de pólvora para a América do Norte, o que faz dela a principal exportadora sul-americana do produto. O explosivo chega ao continente com o nome comercial de Diamond Back Powder, fruto da parceria com uma importadora canadense.

No exterior, a pólvora de Pernambuco tem finalidades distintas. A Nasa a utiliza durante os lançamentos de seus ônibus espaciais, para detonar os oito parafusos que prendem a aeronave à plataforma. Já os exércitos americano e canadense usam o explosivo para carregar armas de grosso calibre.

Nos parques de diversão da Disney, a função do explosivo é lançar os fogos de artifício durante os shows pirotécnicos. “É um orgulho saber que a nossa pólvora está sendo usada por grandes instituições mundiais”, afirmou o empresário Carlos Avellar Júnior, presidente da Elephant.

A fórmula do sucesso pernambucano está na qualidade das matérias primas necessárias à fabricação de pólvora, resultado da combinação de nitrato de potássio, enxofre e carvão. Este último é produzido na própria Elephant, a partir de madeiras de árvores da região. Especialistas consideram esse o principal diferencial do explosivo de Barreiros, que tem velocidade de detonação superior a das concorrentes. “Fizemos vários estudos antes de chegarmos a este padrão de qualidade”, contou Avellar, sem dar pistas.

A qualidade da pólvora pernambucana foi atestada pelo governo americano em 2006, após uma inspeção de oficiais do exército dos Estados Unidos à fábrica. Durante dois dias, foram feitos os mais variados testes no explosivo. Depois do aval, as exportações da Elephant cresceram cerca de 400%.

Mas a entrada no mercado internacional não foi fácil, principalmente no território americano. Os EUA barraram as importações quando constataram que nas caixas do produto, havia “Made in Barreiros, Pernambuco, Brazil” ao invés de simplesmente “Made in Brazil”. O imbróglio durou dois meses e interrompeu a produção. “No fim, consegui manter os nomes e tenho muito orgulho disso”, garantiu Avellar.

Alexandre Arditti
Especial para o JC

Um comentário:

  1. Barreiros tambem é Cultura!!!
    é muito satisfatório saber que moro em uma cidade que fabrica polvora, e a exporta mundialmente!

    made in Barreiros....é de dá orgulho em qualquer um!!!!

    amei a matéria....

    ass:
    Maysa Cantalupo e Vivian Lima

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