segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SERTÃO DO ARARIPE - FÓSSEIS REVELAM O RASTRO DE PEIXE


Quando o Sertão era um imenso mar continental, entre 112 e 99 milhões de anos atrás, navegava pelas águas calmas do lugar um pequeno e delgado peixe desprovido de dentes, semelhante ao uma truta ou salmão. Mudanças climáticas levaram não só os oceanos mas também o animal a desaparecer da região, hoje conhecida como Chapada do Araripe, restando apenas registros fósseis do Cretáceo. Foi analisando um deles que pesquisadores não só descobriram o tamanho desse peixinho – 5,8 centímetros – como também deram um nome a ele: Santanasalmo elegans.

O primeiro nome, relativo ao gênero, fica por conta do lugar. É que o fóssil estava na Formação Santana, um dos setores geológicos da Bacia do Araripe mais ricos em peixes. Já o salmo é relativo a um conhecido gênero de peixes salmoniformes, que inclui a truta e o salmão. O segundo, que corresponde à espécie, faz referência à forma do animal. “Ele é fino, tem a cabeça alongada e o focinho proeminente. É elegante mesmo”, detalha a paleontóloga Valéria Gallo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), principal autora do artigo científico que descreve o animal.

O estudo, publicado recentemente na revista Cretaceous Research, analisou dois exemplares coletados em fevereiro de 2001 na mina Pedra Branca, entre Santana do Cariri e Nova Olinda (CE). Os fósseis, encontrados pelo paleontólogo Sergio Azevedo, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que também assina o artigo, estavam depositados na coleção paleozoológica do Instituto de Biologia da Uerj. Foram oito anos sem que se soubesse que se tratava de uma nova espécie, até que Valéria decidisse estudá-los.

Autora de mais de dez descrições de espécies de peixes fósseis em bacias sedimentares de todo o Brasil, a pesquisadora viu que se enquadravam no grupo dos teleósteos, composto por mais de 17 mil espécies. É o grupo de peixes ósseos, informa Valéria, com mais espécies representadas. “Mas não se enquadrava em nenhum dos gêneros conhecidos. Por isso criamos, inclusive, um gênero para.”

“O gênero Salmo é representado por populações de peixes de água doce e anádromos, aqueles que realizam migrações reprodutivas, reproduzem-se em água doce mas se desenvolvem até a forma adulta no mar”, lembra.

A equipe, composta ainda por Francisco de J. de Figueiredo, também da Uerj, ainda não realizou estudos sobre a ecologia do animal. Analisando a ausência de dentes, entretanto, os pesquisadores acreditam que o Santanasalmo elegans era filtrador. Isso quer dizer que, assim como moluscos, ele sugava a água para microrganismos que vivam em suspensão.

A Formação Santana abriga dezenas de espécies de peixes mas esse é o primeiro descrito para a mina Pedra Branca, onde se extrai gipsita, minério usado na fabricação do gesso, uma das principais atividades econômicas da região.

Verônica Falcão
vfalcao@jc.com.br

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