sábado, 17 de outubro de 2009
ROUBO DE ARSENAL - RETRATO FALADO AJUDA NA AÇÃO POLICIAL
Com a ajuda do capitão Marcos Vinícius Barros dos Santos, 37 anos, peritos do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB) confeccionaram o retrato falado de um dos envolvidos no sequestro do oficial e no roubo de 58 armas de quartéis e destacamentos do Sertão Central.
A composição fotográfica, que mostra um jovem magro, com idade entre 25 e 30 anos, altura aproximada de 1,80 metro, pele branca e cabelos curtos e lisos foi divulgada ontem.
De acordo com o policial, dos três bandidos que participaram do crime apenas esse não utilizava capuz. Ele teria ficado do lado de fora da casa do capitão, enquanto os outros dois renderam o oficial e fizeram a esposa e a filha dele reféns. No momento da abordagem, o bandido descrito por Marcos Vinícius usava uma camisa de algodão bege.
Ontem, além de ajudar o IITB, o capitão também participou com técnicos do Instituto de Criminalística de perícia no carro dele, o Polo Sedan de cor chumbo e placa KJJ-2712, deixado pelos bandidos no município de Belém do São Francisco.
Marcos Vinícius passou mais um dia sem dar entrevistas, segundo ele, por ordens superiores. Na versão do capitão apresentada à polícia, os criminosos abordaram-no em casa às 20h da última terça-feira.
Obrigado a recolher 15 fuzis, 5 submetralhadoras e 38 pistolas em unidades policias de Salgueiro, onde mora, Terra Nova, Serrita, Parnamirim e Verdejante, enquanto sua família era feita refém, ele só teria sido liberado às 4h da quarta-feira.
Além da versão do capitão, o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil estaria trabalhando em cima de outra linha de investigação, que não foi divulgada. Em Salgueiro desde o dia do crime, o delegado-chefe do GOE, Claudio Castro, não quis dar entrevista sobre o caso.
O comandante da Polícia Militar, coronel José Lopes, afirma que é uma questão de tempo a prisão dos responsáveis e a recuperação das armas.
“Não foi só uma pessoa que cometeu o crime, trata-se de um grupo. Então, após a gente chegar a um, o restante com certeza vai ser preso”, destaca.
O arrastão das armas no Sertão pernambucano deixou os Estados vizinhos em alerta. As Polícias Militares no Nordeste estão realizando operações em várias cidades do interior para tentar localizar a quadrilha responsável pelo crime
DISQUE-DENÚNCIA
Na manhã de ontem, o Disque-Denúncia recebeu a primeira informação sobre o caso. A denúncia foi recebida na central do Agreste, que fica em Caruaru, e encaminhada ao GOE. O serviço, que está oferecendo R$ 2 mil por informações que levem à quadrilha, não divulgou o teor da ligação. Denúncias podem ser feitas pelos telefones 3421.9595 – capital e Região Metropolitana – e (81) 3719.4545 – interior.
PM FAZ CIRCUITO DE CRIME
SALGUEIRO – As investigações sobre o sequestro do capitão Marcos Vinícius Barros dos Santos e o roubo do arsenal da PM se estenderam durante todo o dia de ontem. Depois de ajudar a elaborar o retrato falado de um suspeito, pela manhã, o oficial refez, à tarde, parte do circuito dos quartéis assaltados na madrugada de quinta-feira.
Na companhia do delegado do Grupo de Operações Especiais (GOE) Cláudio Castro, que está à frente dos trabalhos, o capitão mostrou como foi obrigado pelos bandidos a levar o armamento. Entretanto, o trajeto se limitou ao batalhão de Salgueiro.
Marcos Vinícius também ajudou a periciar o carro usado por ele para recolher as armas em Salgueiro, Terra Nova, Parnamirim, Serrita e Verdejante.
No veículo, há marcas de barro similares ao material encontrado na estrada que leva até Terra Nova. O Polo Sedan de cor chumbo e placa KJJ-2712 foi deixado pelos bandidos em Belém do São Francisco e agora encontra-se na garagem da Delegacia de Salgueiro.
TESES
O cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Maria Nóbrega, acredita que o sequestro do capitão pode estar relacionado com o processo de migração do crime organizado do Sudeste para o Nordeste.
“Circulam informações de que os criminosos tinham sotaque do Sudeste do País”, comenta o acadêmico, que é autor do trabalho Homicídio no Nordeste - Um estudo recente. O professor também alerta para a coincidência de redução do crime no Sudeste a partir de 2006 e, em contraponto, do aumento no Nordeste na mesma época.
Nóbrega diz, ainda, que o fato de as políticas públicas estarem se fechando na Região Metropolitana do Recife (RMR) deixa um flanco aberto no interior.
“As estatísticas comprovam que, com a exceção da Mata Norte, de Caruaru e dos municípios do Sertão do São Francisco, onde existe uma política interessante de combate ao crime, nas demais cidades do interior a criminalidade tem aumentado.”
Na avaliação do cientista político, o tráfico de drogas é o combustível do crime no interior. “De outubro de 2008 a maio de 2009, mais de 30% dos crimes tinham o tráfico como principal causa.
A vingança também aparece como uma das motivações e, mais uma vez, é possível remeter ao tráfico.” Ele acredita que as armas roubadas vão dar robustez ao crime organizado. “Aposto que as armas serão usadas em roubo de carga. Com o dinheiro, acredito que a quadrilha financiará o tráfico de crack..”
Adriana Guarda
adrianaguarda@jc.com.br
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