domingo, 12 de julho de 2009
VIOLÊNCIA - POLÍCIA BAIANA JÁ MATOU 134 EM AÇÕES POLICIAIS
SALVADOR – Com a morte de dois suspeitos durante ações policiais na noite da última quinta-feira nos bairros de Engenho Velho de Brotas e Boca do Rio chega a 134 o número de mortos pela Polícia Civil e Militar este ano, na Região Metropolitana de Salvador. O dado mostra que a verdadeira guerra que se trava entre bandidos e a Secretaria de Segurança Pública da Bahia está bem longe de abrandamento e integrantes do Ministério Público da Bahia já se movimentam, preocupados com o que consideram excessos da polícia baiana.
De acordo com os dados extraoficiais, 57 das mortes (43%) aconteceram em supostos confrontos com integrantes das Polícia Militar, Rondas Especiais da PM, Tático Móvel da PM e Batalhão de Choque. Grupos especializados das Polícia Civil são responsáveis pela maioria das mortes de suspeitos durante supostas ações policiais. Das 58 mortes de suspeitos durante ações policiais de agentes, 53,4% delas (31) tiveram a participação de policiais do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, Delegacia de Homicídios e Comando de Operações Especiais.
O capitão Marcelo Pita, coordenador de comunicação da Polícia Militar, explicou que as simples declarações de autos de resistências (supostas trocas de tiros com morte) em delegacias de Salvador não eximem o policial militar de sofrer punição, se a ação for caracterizada como excessiva. “Ou seja, se for diagnosticado ou algum tipo de anormalidade na operação dos servidores, eles são punidos pelas ações”, explicou.
De acordo com a corporação, em casos que são diagnosticado que as ações não seguiram os padrões normais de mortes em resistência à prisão, os policiais são alvos de investigações pelas autoridades competentes, sejam elas o ministério público, corregedoria da PM e Polícia Civil.
Para o capitão Pita, a quantidade de pessoas que faleceram nas ações policiais não é indicativo de que houve algum tipo de excesso. “Seria se existisse um número considerável de ações que culminem na condenação dos militares durante o trabalho”, diz o oficial.
Para a pesquisadora Tânia Cordeiro, integrante do Grupo Gestor do Fórum Comunitário de Combate à Violência, muitos jovens inocentes morrem nos alegados confrontos. Ela diz isso porque acompanha casos de mães que procuram apoio e reclamam das execuções dos filhos em alegados confrontos. “Meninos que não possuem histórico de ações violentas são acusados de atiraram contra polícia. São jovens que acompanhamos e sabemos que não são capazes disso”, afirmou.
Ela atribui as ações seguidas de morte “ao despreparo dos PMs” e ao o que ela chama de elemento de componente ideológico: “Esse tipo de atitude acontece contra jovens de comunidades de baixa renda, de origem afrodescendente”, concluiu.
Histórias como o do adolescente Fábio Santos Nascimento, 15 anos, executado no interior de um ônibus pelo soldado PM Pedro Souza Filho, em 2006. O soldado alegou que reagiu a um assalto praticado por Fábio e um amigo, mas os jovens não carregavam armas quando voltavam da praia. Fábio trajava apenas uma sunga. Mãe do jovem, a auxiliar de escritório Neusa Santos, 46, ainda luta por justiça.
Helga Cirino
Agência A Tarde
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