VÔO 447 - CORPOS EM FERNANDO DE NORONHA

Vinte e quatro corpos de vítimas do voo 447 da Air France, encontrados na superfície do Oceano Atlântico, a 1,2 mil quilômetros do Recife, já estão em Fernando de Noronha, onde haverá uma catalogação dos corpos, com recolhimento de impressões digitais e de material genético.

Os 16 primeiros corpos recolhidos – e não 17 como informado anteriormente pela Aeronáutica e Marinha – chegam ao arquipélago na manhã de hoje. Outros oito cadáveres, encontrados e resgatados ontem, estão a bordo da fragata Bosísio, sem previsão de chegada a Noronha. Após triagem, os corpos seguem para o Instituto Médico Legal (IML), na capital pernambucana.

Na entrevista coletiva concedida à noite, o assessor de imprensa da Aeronáutica, tenente-coronel Henry Munhoz, informou que os oito corpos foram avistados por navios brasileiros e pela fragata francesa Ventôse 440 quilômetros a nordeste do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, um pouco além das águas jurisdicionais brasileiras.

A profundidade das águas, na região, é de 3,5 mil metros. A Bosísio foi responsável pelo resgate das vítimas. “Foram utilizados embarcações de pequeno porte da fragata.”

O assessor de imprensa da Marinha, capitão-de-fragata Giucemar Tabosa, complementou que “a Bosísio também já está a caminho de Fernando de Noronha e navega na mesma velocidade da fragata Constituição”, que leva os 16 corpos e, às 19h30, estava a 400 quilômetros do arquipélago.

De acordo com o capitão-de-fragata Giucemar, as condições meteorológicas de ontem não atrapalharam as operações, mas existem áreas de instabilidade próximas a Noronha, o que pode dificultar o transporte das vítimas via helicóptero hoje.

O tenente-coronel Henry afirmou que não há previsão para recolhimentos das dezenas de pedaços do Airbus visualizados no oceano, pois “a prioridade é o resgate de corpos”. “Já há peças em navios, mas elas permanecerão lá por enquanto”, observou. De acordo com o capitão-de-fragata Giucemar, chegou a dizer que as embarcações “navegam em um mar de destroços”, em referência à grande quantidade de materiais espalhados pela região.

O assessor de imprensa da Marinha confirmou que o submarino nuclear de ataque francês Emeraude está a caminho da região do acidente aéreo para participar das buscas às caixas-pretas da aeronave, mas não forneceu maiores detalhes.

Anteontem, Aeronáutica e Marinha haviam informado que recolheram 17 corpos, oito dos quais tinham sido resgatados pela fragata Ventôse. No momento da transferência dos cadáveres do navio francês para a fragata Constituição, observou-se que, na realidade, eram apenas sete.

O equívoco fez com que o comando militar mudasse o esquema de divulgação de informações. “Em decorrência desse acontecimento, a partir de agora só notificaremos à imprensa corpos em poder dos navios brasileiros. Da mesma forma, não informaremos mais o sexo dos passageiros. Caberá ao IML fazer essa divulgação”, pontuou Henry. A Ventôse só tem capacidade para armazenar 15 corpos.

MENSAGEM

Ao final da coletiva, o assessor de imprensa da Aeronáutica leu uma mensagem direcionada aos familiares das vítimas do voo 447 e comparou as buscas em alto-mar ao trabalho de resgate do Boeing 737 da Gol que caiu na floresta amazônica em 29 de setembro de 2006 com 154 pessoas a bordo. “Naquele acidente, havia 154 corpos pela floresta. Menos de 24 horas depois, uma aeronave da FAB estava sobre as asas do avião à procura dos corpos. Ninguém acreditava, mas os 154 corpos foram resgatados. Cumprimos a missão sem deixar ninguém para trás”, afirmou. “Hoje, temos outro desafio, na Amazônia Azul. São 228 pessoas esperando por nosso resgate, e muita gente também não acredita. As dificuldades são muito maiores, mas nosso objetivo, novamente, é não deixar ninguém para trás”, frisou.

Ciara Carvalho e Wagner Sarmento
JC