sexta-feira, 19 de junho de 2009
LUTA CONTRA O TABAGISMO - LIÇÃO DE COMBATE AO FUMO
As 122 crianças da Creche Professor Francisco do Amaral Lopes, em Santo Amaro, área central do Recife, não sabem o que é fumaça de cigarro entre as sete e oito horas em que permanecem no local. É que na capital brasileira onde o número de fumantes caiu mais de 2007 a 2008, a proteção e a educação para os hábitos saudáveis começam na primeira infância.
Pesquisa recente do Ministério da Saúde mostra que o percentual de adultos (com 18 anos ou mais) fumantes na cidade é de 10,4%, menor que a média nacional de 15,2%. Em 2007, os fumantes recifenses representavam 15,9%, o que significa uma queda de 34,6% em apenas um ano, a maior do período.
Toda a rede municipal da educação infantil, composta pelas creches, é ambiente livre do fumo. Assim também são as 220 unidades de saúde pública. O conjunto de prédios, incluindo os privados, nesta condição é outro recorde: 7.839. São mais de um milhão de pessoas protegidas das substâncias tóxicas do cigarro nesses locais, calcula a Secretaria Municipal de Saúde, além dos 156 mil profissionais que lá trabalham.
Para o secretário municipal de Saúde, Gustavo Couto, parceria com a sociedade para tornar ambientes livres do fumo, oferta na rede de saúde de tratamento contra a dependência do cigarro, divulgação de hábitos saudáveis e sobretudo acesso à informação sobre tabagismo e suas formas de prevenção são responsáveis pela mudança. “É uma política de saúde transversal, construída coletivamente e que dialoga com outras áreas”, observa Couto.
Ele diz que se trata de prioridade acertada da gestão petista na capital, iniciada em 2001 e que terá continuação nos próximos quatro anos. Para Couto, o investimento renderá muito ao SUS, pela redução de adoecimento. “O fumo tem ligação direta com doenças cardiovasculares, respiratórias e com o câncer.”
A proibição ao cigarro em lugares fechados é lei no Brasil desde a década de 1990. Há também uma cobrança dos que cuidam de direitos trabalhistas, quanto à proteção da saúde do trabalhador. O Recife associou as restrições ao fumo – que chegaram no ano passado a bares e restaurantes – à ação de parceria, convencendo primeiro empresas e instituições a abolirem o cigarro de suas salas. Segundo a coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo, Maristela Menezes, a estratégia ajudou muita gente a abandonar o cigarro.
Foi o caso da servidora da Creche Francisco do Amaral, Juracéia Alcântara Lima, 48 anos. “Era fumante há dez anos e quando implantaram o programa na creche me conscientizei que era melhor parar. Foi bom para mim e para as crianças. Em casa, os cinco filhos que moram comigo adoraram. Eles reclamavam do mau cheiro do cigarro”, conta. Foi difícil largar o vício, pois Juracéia ficava ansiosa. Mas com o apoio dos colegas de trabalho superou. “Hoje estou bem e não tenho mais cansaço. Sinto-me disposta”, atesta.
A diretora da creche, Maria Clara Farias, conta que a ação incluiu os pais. “Eles também participavam das palestras e muitos depois contaram que deixaram de fumar.” Clara se sente vitoriosa em não mais ver a criançada pegando na grama do jardim pontas de cigarro como brinquedo. Nos cômodos do estabelecimento, ela mantém os avisos de “É proibido fumar”. E o assunto está o ano todo nas atividades pedagógicas.
PESQUISA
Em 1989, o índice de fumantes na capital era de 28%, conforme a Pesquisa Nacional Saúde e Nutrição. Em 2003, a taxa foi de 18%, apurou o Inquérito Domiciliar Sobre Fatores de Risco para Doenças Crônicas. Já em 2006, o novo instrumento de avaliação, a Vigilância de Fatores de Risco por Inquérito Telefônico (Vigitel), apontou índice em torno dos 15%. No ano passado chegou a 10,4%, a maior queda. Recife ocupa agora o quarto lugar entre as dez cidades que têm menor proporção de fumantes.
No momento, conforme a Secretaria Municipal de Saúde, 180 pessoas fazem tratamento contra tabagismo em serviços municipais. Cerca de 40% usam remédio como complementação e 30% conseguem manter a abstinência depois de um ano sem fumar.
FONTE-JC
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