sábado, 17 de janeiro de 2009
PESQUISA - MOTO MATA MAIS AQUI NO INTERIOR
O risco de morrer em acidente de moto é maior no interior do que na capital pernambucana, que tem mais veículos circulando nas suas ruas. A constatação é de pesquisa iniciada pelo Laboratório de Estudos em Violência e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Estado, que avalia o impacto das políticas públicas para redução de desastres. Os dados preliminares foram divulgados ontem, no Recife. Os pesquisadores analisaram os óbitos registrados pelo Ministério da Saúde entre 2000 e 2005, de motociclistas, passageiros e pedestres atropelados por motos. E identificaram 16 municípios de Pernambuco, no Sertão e Agreste, onde de cada 100 mil pessoas, 5 a 11 morrem em decorrência de desastre com motocicleta. Na capital, a taxa de morte por 100 mil habitantes é 1,29. Calumbi, no Sertão, aparece com a maior taxa, de 11,67 mortes por 100 mil. Mas os pesquisadores da Fiocruz evitam análises individuais. O método usado para validar os dados e corrigir distorções, os levam a uma avaliação por zonas do Estado que concentram cidades onde o risco de morte por acidente é mais alto. As zonas críticas para acidentes fatais com motos são formadas por Ouricuri, Trindade e Ipubi, mais Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Calumbi e Betânia. Também foram classificadas Petrolina, Afrânio e Lagoa Grande, na região do São Francisco, além de Brejo, Tacaimbó, São Caetano, Saloá e Bom Conselho, no Agreste. O autor do estudo, Paul Nobre, engenheiro de tráfego e doutorando de saúde pública pela Fiocruz, não ficou surpreso com os achados. “No interior não há fiscalização efetiva de trânsito, que cobre carteira de habilitação e uso do capacete”, comenta. Ele lembra que o uso de motos na área rural ocorreu de forma muito rápida, sem dar tempo para que os usuários do veículo se familiarizassem com ele. As motos são usadas para transporte individual, substituindo o cavalo, como para transportar terceiros, como mototáxis. E a causa para os acidentes não são unicamente dos motociclistas. Para Paul Nobre, outros atores do trânsito também têm sua participação. “Há também questões culturais, como o hábito de beber e não ver problema em conduzir o veículo”, observa, acrescentando que os acidentes também são favorecidos pela exclusão social, que impede o esclarecimento, por exemplo. A segunda etapa da pesquisa sobre os efeitos das ações públicas deve se voltar à análise das políticas, com entrevistas. O foco principal é o motobói, o motociclista em serviço que, segundo Paul Nobre, continua invisível, só é notado quando envolvido em acidente. No Brasil, em 2005, morreram quase 36 mil pessoas e mais de 513 mil ficaram feridas. Em torno de 100 mil ficaram com sequela ou deficiência. Em Pernambuco, de 2000 a 2005, o número de óbitos por acidentes com moto pulou de 173 para 293 casos, correspondendo a um acréscimo de 70%, analisam os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz.
FONTE-JC
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