As pessoas que compraram imóveis na planta nos últimos dois anos são uma das grandes preocupações para o setor imobiliário neste início de 2009. Depois de pagar direto às construtoras as primeiras parcelas do investimento imobiliário, esses clientes estão próximos do momento de receber as chaves e têm de ir ao banco para financiar o restante da casa ou do apartamento. O comportamento mais restritivo do mercado de crédito, conforme alertam analistas, está aumentando o risco de muitas dessas famílias enfrentarem dificuldade para tomar o financiamento, apesar de, em geral, ter sido realizada uma análise prévia de crédito. O efeito desse cenário menos propício já começou a aparecer nos números do Banco Central (BC). Em novembro, o volume de novos empréstimos para o financiamento de imóveis ficou em R$ 152 milhões, uma queda de 26,5% na comparação com os novos financiamentos concedidos em outubro. Entre todas as linhas de crédito para as pessoas físicas, essa foi a que apresentou a maior retração. Na média, a concessão de empréstimos para as famílias diminuiu 7,8% no mês. Antes do agravamento da crise, o Brasil viveu período de bonança nunca visto no setor habitacional. Em 2007, as construtoras lançaram inúmeros imóveis e as condições de crédito atraíram os clientes. Só na Grande São Paulo foram colocadas mais de 62 mil unidades residenciais à venda, número 78% maior que o registrado em 2006, segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Locação de Imóveis (Secovi-SP). “Quem comprou imóvel naquela época vai receber o apartamento nos próximos meses. O problema é que as condições do crédito estão muito piores que as vistas lá atrás”, alerta o professor de finanças pessoais do Ibmec São Paulo, Ricardo José de Almeida. “Hoje os juros são mais altos e as exigências são muito maiores e isso pode gerar um gargalo.” Almeida explica que, naquele período, parte dos clientes só assinou contrato de compra do imóvel após avaliar as condições de financiamento e ver que o negócio era sustentável. Só que, na época, para ganhar mercado e com a economia a todo vapor, os bancos ofereciam condições mais vantajosas, com juros competitivos, prazos elásticos e renda necessária mais baixa. “Hoje, está tudo mais difícil. Isso limita o acesso ao crédito”, lembra Almeida. O professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fernando Nogueira da Costa, diz que esse quadro deve prejudicar principalmente clientes de classe média alta. Normalmente esse segmento busca financiamento exclusivamente nos bancos privados. “Nos financiamentos para a classe média baixa, bancos públicos e recursos da poupança predominam e, por isso, a oferta tem se mantido.” Para tentar contornar a situação, além do pacote de incentivos para o setor (leia mais na matéria ao lado), o governo deve reforçar a Caixa Econômica Federal para que o banco federal possa financiar até 900 mil unidades residenciais em 2009, diante das 600 mil imóveis em 2008. Outra medida em estudo tenta remediar a situação de mutuários que fiquem desempregados durante o financiamento. Está em estudo a criação de um mecanismo que poderia fazer com que o mutuário possa suspender os pagamentos do empréstimo imobiliário em caso de perda do emprego. Almeida chama atenção para o segmento de renda mais alta, que pode ficar fora da ajuda. “Se muitas famílias não conseguirem financiar o imóvel na entrega da chave, teremos dois problemas: superoferta de unidades que sequer foram ocupadas e dificuldade no caixa dos empreendedores que contavam com esse dinheiro.”
GOVERNO LANÇA PLANO DE HABITAÇÃO ESTE MÊS
O Ministério das Cidades pretende lançar até o fim deste mês medidas do Plano Nacional de Habitação (Planhab) destinadas a subsidiar a compra da casa própria para famílias que tenham renda mensal de até cinco salários mínimos. A ideia, segundo um porta-voz do ministério, é eliminar o déficit habitacional brasileiro até 2023, além de estimular a economia doméstica em um momento de crise. Para tornar mais fácil o financiamento dos imóveis para a população de baixa renda, o programa deverá ter recursos do orçamento geral da União e também do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A medida em gestação no Ministério das Cidades não é isolada. Na Fazenda, está em esboço um plano de redução de alíquotas de tributos que incidem sobre materiais de construção. Esse tipo de desoneração, porém, não seria inédita.
TRIBUTOS
Em 2006, por exemplo, o governo reduziu, por decreto, a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de alguns itens muito utilizados na construção civil – tais como tubos de plástico, vergalhões de aço, tintas e cerâmicas, entre outros produtos. O incentivo à construção civil está inserido em um conjunto mais amplo de medidas de estímulo à economia que vem sendo analisado pelo governo federal e que deve ser anunciado até o fim deste mês. Os estudos englobam diversos segmentos da economia, entre eles o de calçados, com o objetivo de minimizar o impacto da crise financeira internacional nos setores intensivos de mão-de-obra ou que, com tradicionalmente exportadores.
FONTE-JC
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