segunda-feira, 20 de outubro de 2008

ORGANIZAÇÃO - MAÇONARIA NO BRASIL SE ADAPTA A DIAS ATUAIS

RIO – “Para falar com o grão-mestre, tecle 30.” A suave voz feminina da secretária eletrônica que atende ao telefone do Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro (GOB-RJ) desfaz o que poderia restar de mistério em relação à maçonaria brasileira, transformada, 186 anos após a Independência do Brasil que ajudou a fazer, em uma organização basicamente beneficente. Ainda fiel às cerimônias que herdou dos primeiros mestres, o GOB tenta agora, porém, voltar a atividades políticas, embora não partidárias. Há três anos, desenvolve campanha pela soberania nacional na Amazônia. O Grande Oriente é a maior e uma das três Grandes Obediências em que se dividem os maçons no País, as outras são a Grande Loja Maçônica e os Grandes Orientes Independentes. “Hoje, com a restauração da democracia, a ordem sente necessidade de novamente trabalhar junto aos anseios populares”, diz o grão-mestre do GOB-RJ, Eduardo Gomes de Souza, em entrevista no gabinete do Palácio Maçônico do Lavradio, sob o “olhar” de um retrato de José Bonifácio – primeiro grão-mestre da ordem, fundada em junho de 1822. “Sentimos que os órgãos que deveriam representar o povo não cumprem seu papel. Mas não recebemos nada do governo. Somos totalmente independentes.” O grão-mestre lembra que o caráter político da maçonaria no Brasil foi forte na Independência, na Abolição e na Proclamação da República, mas explica que, a partir do Estado Novo, por conta do fechamento institucional, “os maçons se recolheram e passaram a exercer a beneficência, auxílio dos menos favorecidos”. O mesmo aconteceu na ditadura militar, período em que, segundo ele, a maçonaria não foi às ruas “nem para defender nem para atacar” o governo autoritário. Souza reconhece que maçons, individualmente – muitos eram oficiais das Forças Armadas –, participaram do regime. “Mas nenhum grande líder da Revolução de 64 era maçom”, garante. Ele admite que muitas lendas que envolvem a maçonaria foram incentivadas pelos próprios maçons, como maneira de afastar os curiosos. “Hoje, no mundo moderno, não dá mais para mantê-las”, diz, sorrindo. “A ordem está muito desmistificada.” No fim do século 19, integrantes da Igreja Católica chegaram a acusar os maçons – que tinham no segredo uma de suas práticas mais características – de satanismo. Hoje, a maçonaria tem até sessões públicas, mas no passado era muito diferente. “Minha avó entrou pela primeira vez numa loja maçônica convidada por minha mãe, para assistir a uma solenidade com meu pai”, compara Souza, filho e neto de maçom, professor universitário e há 28 anos na instituição. Embora repita a origem para a instituição reconhecida pelos historiadores – corporações de ofícios de construtores, sem ligação a nenhum feudo ou comuna, com liberdade para circular pela Europa na Idade Média, que em 1717 se constituíram na maçonaria, na Inglaterra –, Souza também relata supostas ligações com os templários. Segundo ele, “existe a idéia” de que os cavaleiros do Templo de Jerusalém, quando perseguidos pela Igreja e pela França, no século 14, ocultaram-se nas corporações de construtores. “Temos na nossa ordem influência muito grande dos templários, como a beneficência”, diz. O braço do GOB para adolescentes, a Ordem De Molay, é uma alusão a Jacques de Molay, último grão-mestre templário. Souza também fala da suposta influência de Pitágoras, que “teve um lado esotérico”, nas corporações de construtores. Os maçons gostam ainda de lembrar suas origens democráticas. Souza conta que a ordem, inicialmente, por sua raízes inglesas, era monárquica e, depois de chegar à França, embebeu-se dos ideais revolucionários da Revolução Francesa.

Wilson Tosta Rio
Agência Estado

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