quarta-feira, 22 de outubro de 2008
COMOÇÃO - ADEUS A ELOÁ ATRAI 12 MIL PESSOAS
SÃO PAULO (Folhapress) - Foi sob o barulho de helicópteros das redes de TV e os aplausos de cerca de 12 mil pessoas, segundo estimativa da Guarda Civil Municipal de Santo André (ABC), que o corpo de Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, foi enterrado, na manhã de ontem, por volta das 9h, no cemitério Santo André, em São Paulo. Amparada por uma enfermeira do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e abraçada ao filho mais velho, a mãe, Ana Cristina Pimentel da Rocha, acompanhou o enterro sem chorar. Assim como colegas e outros familiares, mãe e filho usavam camisetas estampando o rosto sorridente de Eloá. O semblante da mãe, triste, recebia os flashes ininterruptos das câmeras da imprensa, enquanto ela beijava botões de rosa vermelhos e os jogava sobre a sepultura. Ana Cristina deixou o cemitério por volta das 10h, sem falar com a imprensa. No final da noite da última segunda-feira, ela afirmou que perdoava Lindemberg Fernandes Alves, o ex-namorado da filha, mas que queria justiça. “Eu consigo perdoá-lo. Eu consigo perdoá-lo de todo o coração, mas que a justiça seja feita”, afirmou a mãe. “A Eloá está feliz em um lugar melhor”, completou. Após o enterro, o filho mais novo passou mal. O pai de Eloá não acompanhou a cerimônia. Das 15h de segunda-feira, quando começou o velório, até as 10h de ontem, quando o público começou a se dispersar, cerca de 36 mil pessoas visitaram o cemitério, segundo a GCM. Durante a chegada do caixão de Eloá, curiosos e jornalistas invadiram o cerco de fita amarela organizado pelos policiais. Aos gritos, muitas pessoas pisavam sobre as tumbas mortuárias para poder ver o enterro. Os secretários estaduais Luiz Antonio Guimarães Marrey (Justiça) e Maria Helena Guimarães de Castro (Educação), que já tinham comparecido ao velório segunda-feira, acompanharam também o enterro. Um dos amigos de Eloá presentes no apartamento quando o ex-namorado invadiu o local, Victor Lopes Campos, 15, estava emocionado. “Não esperava que terminaria assim. Ele falava que ia soltar todo mundo na melhor hora”, disse. Segundo ele, Lindemberg alternava momentos de calma e agressividade, principalmente com Eloá. “Ela pedia desculpas para gente o tempo todo por estar fazendo a gente passar por aquilo, recordou o adolescente.
Pai da vítima está foragido de Alagoas
MACEIÓ (AE) - O ex-cabo da Polícia Militar de Alagoas, Everaldo Pereira dos Santos, é mesmo o pai da adolescente Eloá Cristina Pereira Pimentel, de 15 anos. A informação foi confirmada ontem pelo delegado geral da Polícia Civil de Alagoas, Marcílio Barenco. Segundo ele, o ex-cabo Everaldo é foragido da Justiça de Alagoas e estava usando o nome falso de Aldo José da Silva. Everaldo é acusado de ser um dos assassinos do delegado Ricardo Lessa, crime ocorrido em outubro de 1991, em Maceió.
Para evitar ser localizado pela polícia alagoana, desde que deixou Alagoas em 1993, ano em que foi expulso da PM por deserção, Everaldo trocou de nome e se escondeu no ABC paulista, onde morava em Santo André com a mulher, Ana Cristina Pimentel da Rocha, e a filha Eloá. Segundo a certidão de nascimento dela, seu nome verdadeiro é Eloá Cristina Pereira Pimentel, nascida em 5 de maio de 1993, filha do militar Everaldo Pereira dos Santos, e de Ana Cristina Pimentel dos Santos. Pessoas ligadas a Everaldo já fizeram contato com a Civil de Alagoas, informando que a família estaria constituindo um advogado para providenciar a apresentação do ex-militar. De acordo com o promotor Luiz Vasconcelos, o ex-cabo Everaldo foi expulso da PM por envolvimento na “gangue fardada”, responsável por vários crimes de pistolagem, roubos de carros e assaltos em Alagoas.
“A Justiça tem que fazer ele pagar”
JOÃO PESSOA (AE) - O agricultor José Luciano, 63, disse, ontem, que o filho, Lindemberg Alves Fernandes, de 22 anos, responsabilizado pela morte da ex-namorada Eloá deve pagar pelos crimes que cometeu. Conhecido como Zé Viola, o pai de Lindemberg foi localizado ontem pela imprensa da Paraíba, na zona rural do município de Teixeira, a 330 quilômetros de João Pessoa. Zé Viola mora no Sítio Guarita e não tem contato com o filho há 20 anos. Ele disse que tomou conhecimento da tragédia na manhã de anteontem, por intermédio de uma afilhada. Zé Viola ficou chocado e disse que o filho deve pagar pelo que fez. “Fiquei surpreso em saber que o meu filho está envolvido no crime. A Justiça tem que fazer ele pagar”.
Promotor quer saber se jovem foi torturado
SÃO PAULO (Folhapress) - O promotor Antonio Nobre Folgado, do Tribunal do Júri de Santo André (ABC), responsável pela acusação à Justiça contra Lindemberg Alves Fernandes, decidiu ontem determinar a abertura de inquérito policial para apurar possíveis crimes de tortura contra o acusado. Segundo ele, um inquérito policial será instaurado para determinar como apareceram diversas marcas pelo corpo do rapaz, principalmente no rosto. Para o promotor, imagens de TV, fotos de jornais e um vídeo no qual o preso fala sobre o crime, veiculado ontem pela TV Record, deixam evidente o fato das agressões. Nayara,a diretora do Centro Hospitalar de Santo André, Rosa Maria Aguiar, afirmou, ontem, que a adolescente Nayara, de 15 anos, estará apta a prestar depoimento à Polícia Civil assim que tiver alta, no fim da tarde de hoje. Nayara seguiu ontem alternando depressão e choro com momentos de entendimento pela morte da amiga. “Ela não vai prestar depoimento, não tem condições de falar nada ainda”, disse o pai, Luciano Vieira.
Receptores de órgãos devem receber alta
SÃO PAULO (AE) - Os boletins médicos de ontem mostram que estão bem e devem ter alta nos próximos dias os pacientes que receberam órgãos de Eloá Pimentel. A cirurgia mais delicada foi o transplante de fígado, que beneficiou uma adolescente de 12 anos, que sofria de um tipo raro de hepatite. Os médicos da Santa Casa de São Paulo afirmaram, ontem, que o estado da menina antes da intervenção era grave e o risco de morte nos próximos três meses era superior a 30%. A adolescente agora se recupera na UTI e está consciente. O fígado transplantado reagiu bem. Também passam bem dois pacientes que receberam órgãos no hospital Beneficência Portuguesa, também em São Paulo. Exames mostram que o homem de 25 anos que recebeu um rim e o pâncreas teve redução no índice de glicemia. Maria Augusta dos Anjos, de 39 anos, que recebeu o coração de Eloá, apresentou melhoras. O jovem de 15 anos que teve um rim transplantado deve ter alta em uma semana, assim como o receptor do pulmão, que está no Instituto do Coração, na capital paulista.
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