terça-feira, 24 de junho de 2008

ELEIÇÕES MUNICIPAIS - PATRIOTA GANHA DISPUTA NO PSB DE PETROLINA

Por uma diferença de 19 votos, o deputado federal derrota o prefeito Odacy Amorim e o secretário estadual Bezerra Coelho e será o candidato socialista no principal colégio eleitoral do Sertão

Ana Lúcia Andrade
Enviada Especial

PETROLINA – Numa convenção marcada pela tranqüilidade, durante as mais de doze horas de evento, e apesar de uma militância aguerrida de ambos os lados, o deputado federal Gonzaga Patriota venceu ontem, por uma margem apertada de apenas 19 votos (332 x 313), o prefeito de Petrolina, Odacy Amorim, e será o pré-candidato do PSB à prefeitura do principal município administrado hoje pelo partido do governador Eduardo Campos. Gonzaga não derrotou apenas o prefeito. Ele venceu o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, principal fiador do nome de Odacy, e com quem de fato mediu força no partido. O parlamentar venceu nas três zonas eleitorais, de onde saíram os 656 convencionais que compareceram para votar. Somente na abertura da terceira urna, majoritariamente de votantes da zona rural, onde Odacy tinha a liderança, houve um princípio de tumulto, atrasando a apuração. O prefeito questionou a existência de um voto a mais, depositado nesta urna, porque segundo ele esse voto deveria ter sido compensado em outra zona e não foi. Já bastante magoado por ter enfrentado a disputa no voto com Patriota, Odacy aproveitou o ocorrido para exigir, publicamente, que o fato fosse explicado. “Já tive que passar por essa tortura. Isso é o mínimo que eu posso exigir, que me seja esclarecido esse voto. Não estou negando apoio a ninguém”, bradou o prefeito, no meio do plenário, diante da vitória confirmada de Patriota, que já recebia cumprimentos e comemorava o resultado. Ao ter sua vitória decretada, Patriota a dedicou “primeiramente” a Eduardo Campos. “Eu ofereço essa vitória ao meu governador que, com muita competência e imparcialidade, conseguiu durante quase um ano segurar para que a gente pudesse fazer essa festa bonita e democrática. Ele terá um grande parceiro na vitória e no governo”, prometeu, antes de sair em carreata festiva pela cidade. Eduardo acompanhou toda a convenção através de Adilson Gomes, que integrou a comissão estadual do PSB enviada a Petrolina para observar o encontro. Tão logo saiu o resultado, Adilson o comunicou pelo celular ao governador e recebeu dele a missão de buscar de imediato a unidade do partido. Indagado se havia ambiente para atender a orientação recebida, respondeu em tom firme: “Eles mesmos (Odacy e Patriota) acordaram um regimento do congresso assumindo o compromisso de apoiar um ao outro. Esse regimento tem que ser cumprido”, afirmou. Patriota acredita que conseguirá a unidade em torno do seu nome. Ressaltou não ter dúvidas de que Odacy saberá reconhecer o resultado da convenção. Mas admitiu que Bezerra Coelho pode não participar de sua campanha. “Se ele não me apoiar, não terei nenhum problema. Porque sei que o projeto dele é maior. Talvez Fernando não venha interferir nas eleições de Petrolina porque tem um projeto de Senado. Ele não e mais um homem de Petrolina, é um homem de Estado”. O candidato pretende começar de imediato as conversas com os partidos que apoiavam a reeleição de Odacy e também com os que resistiam a ela e mantinham candidatura própria, como é o caso do PDT do vereador Sargento Quirino, que pode reavaliar o projeto de candidatura própria. Mas Patriota não pretende ficar restrito aos partidos da base aliada. Ele disse que vai se empenhar para trazer o PSDB do senador Sérgio Guerra. “Da mesma maneira com que o PSB e o PT estão em Belo Horizonte fazendo composição com o PSDB, eu vou conversar com o senador Sérgio Guerra, que é meu amigo, e vou fazer todo esforço para trazer o PSDB para o meu palanque”. Sobre um nome para ocupar sua vice, Patriota disse que no momento não pretende se empenhar nesse ponto, mas à formação de uma frente em torno de sua candidatura.Visivelmente abatido com a derrota, o secretário Fernando Bezerra Coelho (Desenvolvimento Econômico) informou que vai trabalhar para buscar do seu grupo “um ambiente e clima para o diálogo” com Gonzaga Patriota. Mas adiantou que será “muito difícil” de explicar aos correligionários a derrota que sofreu num processo cujas regras, segundo ele, foram definidas pelo partido. A declaração é um sinal evidente de que as desavenças estão bem longe de serem resolvidas. Bastante contrariado, Bezerra Coelho reconheceu que Patriota assume agora a condição de líder do PSB em Petrolina, “já que assim o PSB estadual o definiu”. E, como tal, disse, “caberá a ele conduzir o processo sucessório na cidade”. O secretário disse que estará 100% solidário ao prefeito Odacy Amorim porque o admira como figura pública. Para Bezerra, foi uma “grande injustiça” o que o PSB fez à biografia de Odacy não ter lhe dado o direito de disputar a reeleição. “Em política a gente disputa, ganha e perde. Aqui em Petrolina eu tive vitórias lindas. Amarguei derrotas, mas sempre ganhei ou perdi buscando o voto popular. Essa é a primeira vez que a gente perde politicamente no âmbito de uma convenção. E no momento em que a gente tem o deputado federal mais votado, o prefeito, uma administração aprovada, um prefeito que lidera as pesquisas, uma maioria folgada na Câmara e o apoio dos partidos que apóiam o governador Eduardo Campos e o presidente Lula. Então, é obvio que essa derrota é sentida, é uma derrota que machuca, porque dói perder por regras que foram definidas pelo partido”, desabafou. Mas a mágoa de Bezerra não se restringe ao PSB. Embora tenha evitado falar, ele deixou evidente que também responsabiliza o governador pelo fato de o partido não ter chegado ao entendimento, como ocorreu em outros municípios, graças ao empenho pessoal de Eduardo. Quando perguntado se a disputa travada com Patriota lhe deixava alguma mágoa de Eduardo, Bezerra encerrou a entrevista com um sonoro: “Eu estou falando de Petrolina”. E saiu. (A.L.A.)

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