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PMA

domingo, 21 de agosto de 2016

ARBOVIROSE - SEIS MESES DE DORES E INCERTEZAS

Primeiro, o grande temor era a dengue. A banalização da epidemia causada pelo mosquito Aedes aegypti e as interrupções nas campanhas de controle do vetor deixaram a população em uma espécie de anestesia com relação aos perigos da doença. Passaram-se os anos e o surgimento da microcefalia relacionada ao zika levou o vírus a despontar, no ano passado, como a mais temida das arboviroses. Identificada no Brasil ainda em 2014, a febre chikungunya, que até então não gerava tanta preocupação, assumiu neste ano uma posição de protagonismo nas estatísticas de infecções graves por arboviroses.

Em Pernambuco, é a líder no ranking de mortes. São 46 contra 26 por dengue. A primeira foi confirmada em fevereiro, seis meses atrás. A atenção, alertam os especialistas, precisa ser mantida. Até a semana passada, haviam sido notificados 26,7 mil casos de arboviroses na capital, das quais 8,4 mil por chikungunya. Apesar de a maioria das notificações ser de dengue, a chikungunya se destaca não só pela quantidade de mortes que provocou, mas também por apresentar quadros de dores que se arrastam por meses.

O primeiro óbito confirmado foi o de uma mulher de 88 anos. Só depois, os exames laboratoriais mostraram que as mortes por chikungunya começaram bem antes. Ainda em janeiro, o Recife registrou três óbitos pela doença. Até agora, as circunstâncias dessas fatalidades não foram esclarecidas. Especialistas tentam desvendar se houve mudança no padrão do vírus circulante no estado. Técnicos do Ministério da Saúde chegaram a vir a Pernambuco ajudar nas investigações. O que se sabe até agora é que, em geral, os óbitos vitimaram pessoas que já tinham doenças prévias, como hipertensão arterial e diabetes. Em março deste ano, foi lançado um protocolo para manejo clínico dos pacientes.

Enquanto isso, os esforços para controle do Aedes permanecem. Três locais - Nova Descoberta, Alto José Bonifácio e Morro da Conceição - ainda apresentam índice de infestação alto. “São bairros com intermitência de fornecimento d’água e coleta de resíduos sólidos, o que acaba sendo fator para focos do mosquito”, esclarece a secretária executiva de Vigilância à Saúde do Recife, Cristiane Penaforte. 

Pior para os idosos

Seis dos 14 óbitos por chikungunya neste ano no Recife vitimaram idosos. Aos 82 anos, Sebastião Silva, morador do bairro dos Torrões, foi diagnosticado há cerca de seis meses. Passou oito dias sem conseguir se locomover. O tempo pode parecer longo desde o diagnóstico, mas se ele andar da casa até a esquina da rua, ainda hoje, o joelho começa a incomodar. As dores são fortes. “Foram mais de R$ 200 em remédios. Já tomei de todo tipo, mas nem sempre passa”, conta. Mas o pior, diz Sebastião, aconteceu com a esposa dele. A infecção ocorreu há sete meses, mas a locomoção está prejudicada até hoje. Na época crítica, foi de Sebastião a tarefa de levar a outra idosa, de 82 anos, da cama para o banheiro e vice-versa.

Sintomas que não passam

É um verdadeiro caso de amor, que chega junto e não separa mais. A qualquer pessoa que pergunta, é assim que a dona de casa Maria de Fátima Barreto, 45 anos, explica a chikungunya. Ela conheceu a doença em fevereiro deste ano, no primeiro dia de uma das festas que mais gosta, o carnaval. Chegou a ir ao desfile do Galo da Madrugada e voltou “se arrastando”.

No domingo daquele de folia, iniciou um período de três dias na cama. Não conseguia ficar em pé em função das dores intensas, principalmente nos braços e pernas. O tempo passou, mas os sintomas permanecem. “Meus dedos continuam inchados. Quando acordo de madrugada não consigo fechar as mãos”, lamenta ela, ao lado da mãe, Josefa Barreto. Aos 85 anos, a idosa integra o grupo de risco para a doença e reclama até hoje. Ela chegou a passar uma semana em uma cama. “Cuido dela e do meu pai, dois idosos, então se tornou muito mais difícil”, conclui Maria de Fátima.

Do Diário de Pernambuco

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