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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CARRO ELÉTRICO - O ETERNO VEÍCULO DO FUTURO


"Hoje, não dirigimos carros elétricos porque não há uma indústria interessada neste tipo de automóvel. Ele surgiu antes que o carro com motor de combustão movido a gasolina, mas apesar de não emitir carbono, não se popularizou como o outro. Na época que foram inventados, no final do século XIX, início do século XX, ninguém se preocupava com o ambiente." Foi essa a razão que Alexandre Costa, consultor automotivo, deu para o número escasso de veículos movidos a eletricidade no mundo.

Sérgio Xavier, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, concordou que a falta de interesse após o descobrimento do petróleo trouxe uma falta de investimento, mas o mercado está correndo atrás. "A tecnologia necessária está evoluindo bem. As baterias já podem ser recicladas sem deixar lixo tóxico e estão ficando mais potentes, conseguindo ser recarregadas até 3.000 vezes," disse o secretário. "Nosso plano, junto ao governador Eduardo Campos, é que até 2014 tenhamos táxis elétricos rodando pelo Grande Recife," completou Xavier.

De 1920 a 1980, os carros a gasolina dominaram o mercado internacional. Diversas reservas de petróleo foram descobertas na época, deixando o combustível mais barato, o que aumentou as vendas e levou mais dinheiro para as montadoras, que desenvolviam mais os motores de combustão. Enquanto isso, os carros elétricos iam caindo em desuso, pois sua velocidade máxima era de 32 km/h e tinha uma autonomia de 60 quilômetros.

Com o aumento no preço do barril do petróleo no final dos anos 90, a indústria automotiva voltou a prestar atenção nos carros elétricos. Nos Estados Unidos, as vendas do Toyata Prius, um carro híbrido, subiram e os modelos elétricos ganharam o título de carro do futuro. Segundo Alexandre Costa, isso ainda não foi o suficiente. "A indústria do petróleo ainda é muito forte e não querem que carros totalmente elétricos se popularizem, então mesmo com o aumento da frota nos Estados Unidos e na Europa, isso ainda não é o bastante." Em 2012, 15 anos depois do início da produção do Prius, ele chegará no Brasil, no final de outubro. Apesar disso, carros elétricos populares ainda são considerados carros do futuro.


Para Costa, a situação no Brasil ainda é pior. "Estamos muito atrasados em relação a isso também por conta da Petrobras. Na Califórnia, os carros que não emitem carbono tem um grande desconto, fazendo com que fiquem bem mais baratos. O Governo do Brasil é o dono de uma empresa que produz petróleo, claro que não vai dar subsídios para uma indústria concorrente. Por conta disso, um carro elétrico aqui não sairia por menos de R$ 100 mil."

Ainda segundo o consultor, existem três pontos principais a serem melhorados para que ocorra uma popularização. "Primeiro precisamos de um carro com uma autonomia maior. Uma empresa norte-americana, a Tesla, produz carros que fazem quase 400km por carga, mas ainda é apenas uma. O segundo empecilho a ser resolvido é aumentar o número de pontos de abastecimento. Por fim, o que deve ser o maior problema é o tempo que demora para carregar a bateria." Este tempo de carga depende de cada veículo, variando de 4 a 8 horas, o que torna inviável a criação de "postos de energia", pois ninguém quer ficar tanto tempo no meio da rua esperando que seu automóvel carregue.

"Isso é uma questão de costume. Ao invés de abastecer no meio do caminho, as pessoas podem recarregar seu carro em casa ou enquanto ele está estacionado no trabalho, mesmo que não seja em um estacionamento e sim no meio da rua. Para isso, precisamos de toda uma estrutura, mas não é impossível. Temos fios elétricos em praticamente todas as ruas. Criar pontos de abastecimento nestes locais não é algo de outro mundo." O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade novamente concorda com Costa. "Além desses pontos de abastecimento, também estamos estudando um modelo que é usado na Europa. Lá, existem postos onde a pessoa apenas troca a bateria por uma nova e segue."


Carro abastecendo enquanto está estacionado na rua, na Nova Zelândia.

PERNAMBUCO - Em 2011, um Palio Weekend foi adaptado para ser totalmente elétrico e circular no arquipélago de Fernando de Noronha. O protótipo foi desenvolvido pela Itaipu Binacional em parceira com o Governo do Estado e a Fiat. Na ocasião, o diretor de articulação e infraestrutura de Fernando de Noronha, Gustavo Araújo disse que o objetivo era "de substituir pelo menos 20 carros por energia renovável, gradativamente."

De acordo com a assessoria de imprensa da Fiat, existem 50 carros deste tipo circulando pelo Brasil. "Estamos fazendo testes e mensurando os resultados. Vamos avaliar resistência, comportamento e durabilidade dos componentes," explicou a Fiat. Todos esses veículos estão sendo administrados pelas companhias elétricas estaduais. A montadora ainda disse que não há planos para lançar um carro elétrico no mercado brasileiro. "No Brasil, o grande foco é o álcool, que já polui 40% menos que a gasolina. Nenhum país no mundo tem tantos pontos de combustível com álcool como aqui. Então nossos estudos estão mais focados nesta solução."

Também em 2011, a Edra Automotores, em parceria com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Energia), produziu um carro totalmente elétrico que foi testado em Pernambuco. Ele ficou a disposição do Governo por pouco mais de seis meses. "A Edra expressou interesse em trazer uma fábrica para Pernambuco. A ideia seria um polo no Estado, começando em Fernando de Noronha. O benefício para o arquipélago seria enorme, pois não precisaríamos mais levar combustível para a ilha, causando poluição," disse Sérgio Xavier. Apesar dos planos audaciosos do secretário, nada de concreto foi realizado.


O carro da Edra/CPFL que foi testado em Pernambuco por seis meses

FONTES DE ENERGIA - Além dos problemas destacados por Alexandre Costa, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Marco Antônio Martins Almeida, disse recentemente que o Brasil precisaria produzir mais energia para suprir esta nova demanda. "A energia a ser suprida [para ser armazenada nos carros elétricos] exigiria uma fonte adicional, que tem de ser fóssil," explicou o gestor quando disse que os carros elétricos não seriam a solução para a poluição.

Mesmo sendo um produto com mais de 100 anos, o carro elétrico ainda está engatinhando no mercado. Por conta do alto custo de produção e venda (o Nissan Leaf, de 2010, é o único que está finalmente gerando lucro) e baixa autonomia, não conseguem se popularizar. Resta saber quando os problemas apontados por Costa serão resolvidos e os carros do futuro passarão a ser, finalmente, carros do presente.

NE10 - Débora Nascimento

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